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quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Em Roma na Primavera (1961)


Ninguém melhor que Vivien Leigh para dar vida às personagens do Tennessee Williams. Em "Uma Rua Chamada Pecado" ela domina as cenas de tal forma que parece estar confortável na pele de Blanche Dubois. Vivien como ninguém soube projetar a experiência nos palcos para as telas de cinema. Por mais de três décadas conciliou seu trabalho em Hollywood, com o teatro. Fez inúmeras peças na Inglaterra, algumas dirigidas pelo marido Laurence Olivier, com quem esteve casada por 20 anos. Talvez por isso, não atuou em tantos filmes quanto outras atrizes veteranas. Mas teve momentos ímpares: imortalizou Scarlet O'Hara em "E O Vento Levou", deu uma performance memorável ao lado de Marlon Brando em "Uma Rua Chamada Pecado", e quem não se emocionou com "A Ponte de Waterloo"?

Vivien era conhecida por causa das constantes variações de humor e em 1961 não estava em um bom momento, na vida pessoal. Recém divorciada, há quem diga existir aspectos em comum com a personagem do romance de Tennessee Williams chamado "The Roman Spring of Mrs. Stone" (Em Roma na Primavera, no Brasil), na qual uma atriz de teatro decadente passa por uma crise de idade e acaba se envolvendo com um gigolô.
Karen Stone (Vivien Leigh) é uma estrela da broadway que aos 45 anos enfrenta críticas cruéis relacionadas à idade e uma carreira em declínio. Decidida a afastar-se dos palcos, sai de férias com o marido que devido a um ataque-cardíaco, morre durante o vôo.

Como grande parte de Roma parecia existir só no passado, a Sra. Stone decidiu que fosse, talvez, o lugar mais apropriado e confortável para levar o que ela tinha certeza, seria quase uma existência póstuma. Em um antigo palácio em um dos lugares mais altos da cidade, Karen escolheu fazer seu lar.

Uma senhora um tanto suspeita que atende como Condessa Magda Terribili-Gonzales, conhece um rapaz italiano chamado Paolo di Leo (Warren Beatty) e juntos planejam aproximá-lo da Sra. Stone. Simultaneamente, outro jovem que parece solitário e não tem uma ocupação certa, passa seu tempo no topo das escadarias em frente ao apartamento de Karen, como se esperasse dar ou receber algum sinal secreto.


Auto-conhecimento é algo que Karen Stone sempre quis evitar, sua busca obsessiva pela carreira e a dedicação a um casamento monótono, a impediram de descobrir sua própria natureza. Inicialmente, apesar de solitária, Sra. Stone resistia às investidas de Paolo, até que se deixou envolver entre as festividades propostas pela condessa e a conversa do garoto. Conforme sentia-se atraída pelo jovem rapaz, Karen precisava lidar com as investidas dele em outras figuras femininas, mais jovens do que ela. Como pessoa pública, envolvia também a humilhação em admitir a hipótese de ter alguém querendo tirar vantagem, aproximando-se dela por causa do dinheiro e não porque estava atraído.


Até hoje, o tabu por trás da relação entre mulheres mais velhas com homens jovens é enorme. Se torna inevitável pensar no impacto que o livro e filme causaram na época, figuras como Karen Stone eram completamente marginalizadas. A ambientação criada por Tennessee, descreve tão bem a tensão sexual entre as pessoas que se encontram na famosa escadaria em Roma, as vidas que se entrelaçam, os que querem tirar vantagem ou ainda, os que esperam se divertir. No livro há diversas menções ao forte moralismo imposto na sociedade, como o notável “Americans aren’t as romantic as their motion pictures”, se não fossemos tão moralistas, não nos surpreenderíamos, até hoje, com filmes como esse. Por que Karen não poderia buscar a felicidade e correr riscos?

As paisagens de Roma e a beleza do filme só fazem valer mais a fotografia em technicolor! Recentemente, "Em Roma na Primavera" foi relançado em DVD no Brasil pela distribuidora Cult Classic e é uma boa pedida para quem gosta de ver as obras do Tennessee Williams adaptadas para o cinema ou até mesmo para os fãs de Vivien Leigh, que representa a vulnerabilidade do personagem como ninguém, numa atuação memorável que acabou se tornando seu último papel como protagonista. Em contrapartida, Warren Beatty estava em alta, sua estréia em Clamor do Sexo de Elia Kazan, lançado no mesmo ano, foi um sucesso e chegou a lhe render uma indicação ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Ator.


Bastidores:


Na primeira foto, o netinho Neville brinca com o figurino da avó nos bastidores de "The Roman Spring of Mrs. Stone". Ao lado, Warren Beatty, Vivien Leigh e Joan Collins jogam cartas no set. Embaixo, no lado esquerdo, Vivien e Warren estudam suas falas durante um intervalo nas filmagens. E por último, Vivien ao lado do diretor José Quintero que realizara o sonho de gravar com a estrela, e quando indagado sobre a importância de Vivien para o teatro inglês, disse: "I cannot think of England without thinking of Vivien Leigh."


 Curiosidades:



- O pôster que aparece no início do filme, da personagem Karen Stone estrelando uma peça baseada em Shakespeare chamada "As You Like It" é a mesma adaptada para o cinema pelo ex-marido Laurence Olivier, que a protagonizou ao lado de Elisabeth Bergner.
- Tennessee Williams considerou o filme como uma das melhores adaptações de suas obras para o cinema.
- Para ver a versão em VHS que foi comercializada no Brasil, clique aqui.
- Depois de sua estréia em "Clamor do Sexo", Warren Beatty ouviu que Tennessee estava participando dos testes para a escolha de elenco de "Em Roma na Primavera" e queria um italiano autêntico para o papel. Destemido, Warren comprou uma garrafa de algo chamado Man Tan, se bronzeou e pegou um avião para Porto Rico onde T.W. estava de férias, abordou o autor homossexual em um cassino e leu algumas falas para ele. Automáticamente, ganhou o papel. Então, Warren imediatamente pegou um vôo de volta para Nova York e Williams admitiu que Warren tinha todas as qualidades para interpretar um gigolô. "Ele é tão bonito." mencionou, "só de olhar para ele, fico com lágrimas nos olhos - que desperdício!"
- Em 2003, foi realizado um remake para televisão, estrelado por Helen Mirren, Olivier Martinez, Anne Bancroft e que também conta com o brasileiro Rodrigo Santoro.


Publicado por: Guilherme Toffoli

3 comentários:

  1. Acabei de comprar pela internet esse filme. Espero que a qualidade da imagem esteja boa, porque a Cult Classic tem fama de levar ao mercado filmes com imagem muito ruim. Adorei as informações que você deu!

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    1. Meu DVD chegou, a qualidade é ruim, uma pena. Agora é esperar as majors lançarem em Blu-ray por aqui, o que deve ser bem difícil.

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    2. É uma pena mesmo termos que depender de edições pobrinhas para poder ter alguns filmes em nossa coleção, não?

      Obrigada por comentar!

      OBS.: Agora estamos no site: cineespresso.com

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