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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Natal Branco (1954)



Então é natal e o que você fez? Que tal “então é natal e que filme iremos assistir?” White Christmas (Natal Branco) faz parte dos filmes que são tradicionalmente vistos na noite de natal nos Estados Unidos. A felicidade não se compra de Frank Capra também faz parte desse grupo. Também não é para menos, pois White Christmas tem tudo que um bom filme do gênero pede: músicas, atores e cenários incríveis.


White Christmas foi o primeiro filme em Vistavision. Tratava-se de uma resposta ao Cinemascope, lançado pelos estúdios da Fox no ano anterior, que alargava a película. Além disso, o technicolor utilizado no filme o enriquece ainda mais. Não é a toa que a Paramount Studios escolheu White, um musical, para ser seu primeiro filme em Vistavision. Musicais tendem a serem engrandecidos pelo technicolor, imagine com um sistema em que a imagem era mais larga e de maior qualidade.

Apesar de ter sido feito em 1954, quando a 2ª guerra mundial já havia terminado, existe uma clara propaganda de guerra no filme. Ele conta a história de Bob Wallace (Bing Crosby) e Phil Davis (Danny Kaye), dois soldados do pelotão do General Waverly (Dean Jagger). Eles estão divertindo os outros soldados com músicas e piadas, quando um ataque surpresa começa. Phil salva a vida de Bob, que fica em dívida eterna com o amigo. Wallace acaba pagando essa dívida empregando Davis como seu parceiro em seus números musicais depois que a guerra termina. Eles fazem muito sucesso, o que acaba atraindo mulheres. No entanto, Bob acha todas interesseiras, ambiciosas. Isso mostra a visão que os homens tinham, em geral, das coristas na época: muito interessantes para se passar a noite, mas que não prestavam para o casamento. Bob quer encontrar uma mulher do show business que não seja ambiciosa, que queira ter filhos e insira um papo bem retrógado aqui. Ao receberem a carta de um antigo companheiro de pelotão, que lhes fala sobre suas irmãs cantoras-dançarinas, os dois vão assisti-las em seu número Sisters e voilà: elas são tudo que eles procuravam em uma mulher. Betty (Rosemary Clooney) e Judy (Vera-Ellen) Haynes cantam, dançam, são bonitas e carismáticas. É claro que o coração duro de Bob cai de amores por Betty; o de Phil por Judy. Depois de uma confusão com a polícia, todos acabam embarcando para Vermont, onde descobrem que o dono do hotel em que eles estão hospedados (um lugar rústico que está prestes a declarar falência) é o General Waverly.

É muito interessante ver como as duplas funcionam tão bem durante o filme. Judy e Betty têm personalidades completamente diferentes, assim como Phil e Bob. Talvez isso faça com que a química funciona tão bem. No caso das garotas, Judy é a irmã serelepe, sonhadora enquanto Betty é mais tímida e pé no chão. Os números musicais foram trabalhados pensando nessa diferença de personalidade, coisa que só um diretor competente como Michael Curtiz poderia fazer. Nos números de Judy, temos a presença de sapateado, dança e roupas mais ousadas. Já nos de Betty, temos uma roupagem clássica, com menos dança, muito próximo do estilo musical que Rosemary Clooney cantava. Isso também está ligado ao fato de que Vera-Ellen não se dava muito bem com o canto – tanto é que foi dublada por Trudy Stevens nas músicas – e Rosemary não era lá uma rainha do sapateado. No caso dos homens, essa diferença de personalidade é menos percebida pelos números musicais, uma vez que ambos sapateavam e cantavam muito bem. No entanto, percebemos-a pelos diálogos; Phil é sempre o engraçadinho ao passo que Bob é mais sério e sempre está com uma expressão sisuda. Como casais, essa diferença também é visível. Judy e Phil são mais divertidos; Betty e Bob parecem mais sérios. Ao contrário do que poderíamos pensar essa seriedade de Betty e Bob não os torna menos querido aos nossos olhos. Torcemos tanto por eles como por Judy e Phil.


Nos créditos iniciais do filme, lá está o nome de Edith Head como figurinista. E claro que seu nome significa muitas roupas bonitas, que você que foram trabalhadas de acordo com o caráter do personagem. Os vestidos usados por Rosemary Clooney merecem destaque, principalmente os dos números Love, you didn’t do right by me e Minstrel Number. O de Minstrel Number tem uma cauda vermelha L-I-N-D-A, confesso. O cuidado aos detalhes, tão característico de Head, não nos passa despercebido no filme. As roupas de Clooney sempre evocam um lado clássico, vestidos que poderíamos usar nos dias de hoje. Já as roupas de Vera-Ellen foram projetadas tendo em vista o fato de que iria dançar nos números, por isso tecido leve e cortes que valorizassem as lindas pernas da atriz. Se prestarmos bastante atenção, Judy sempre usa roupas com golas. Por quê? Vera-Ellen sofria de anorexia e o estúdio tentou disfarçar cobrindo seu pescoço.

Rosemary Clooney e os belos vestidos assinados por Edith Head



Um último aspecto a ser notado em White Christmas é a propaganda de guerra, mesmo que ela tivesse terminado há quase dez anos. Existe uma canção, I wish I was back in the army, cantada pelos quatro personagens principais, uma ode à guerra. Ela diz que o exército era bom porque “tínhamos três refeições por dia de graça e poderíamos assistir Dietrich de graça”. Uma nação tão bélica quanto os Estados Unidos não poderia ser mais partidária desse pensamento. Vamos esquecer as mortes, as convocações e pensar nos aspectos bons. White também prega a importância do exército através da figura do General Waverly. Phil e Bob decidem homenageâ-lo e chamam os ex-colegas de pelotão para prestar uma homenagem. “O general não pode ser esquecido” – diz Bob. Em certos momentos, senti como se estivesse vendo uma versão pós-guerra de Hollywood Canteen. A guerra é um instrumento importante para os americanos, por isso é sempre bom lembrar aos cidadãos que se eles estão vivendo bem, é porque alguém se sacrificou no passado por eles. Tirando esse pequeno lousy detalhe sobre a guerra, White Christmas é um filme maravilhoso. Particularmente acredito que seja uma celebração ao antigo sistema de estúdio, a grandeza dos cenários pintados completamente à mão. Nessa época gravar externas era uma lenda, um desperdício. Por que gravar externamente se podemos construir uma réplica dentro do estúdio? O technicolor e vistavision engrandecem os cenários e fizeram com que White Christmas fosse um sucesso de bilheteria na época em que foi lançado. Então é natal e que tal assistir White Christmas ao invés de Cinderela na televisão?

Curiosidades:

  • O papel de Phil Davis foi originalmente pensado para Fred Astaire, que já havia trabalhado com Bing Crosby em Holiday Inn. No entanto, ao ler o roteiro, Astaire recusou. Donald O’Connor foi chamado para para substitui-lo só que ficou doente antes das filmagens começarem. O papel acabou ficando para Danny Kaye;
  • White Christmas, a canção, já tinha sido utilizada no filme Holiday Inn. Ela se tornou um clássico e foi regravada por muitos artistas, como Michael Bublé;
  • Count your blessings instead of sheep ganhou o Oscar de melhor canção original em 1955;
  • Rosemary Clooney é a avó de George Clooney (essa eu sei que vocês sabiam) e ela assinou contrato com a Paramount com a promessa de um dia trabalhar com seu ídolo, Bing Crosby;


Para terminar, gostaria de desejar a todos um feliz natal. Obrigada por lerem nossos pequenos surtos diários com filmes – também chamados de posts –, somos muito gratos por isso. Espero que neste natal Simone não seja a música mais difundida pelos vizinhos, embora um natal não seja natal sem essa música.


Publicado por Jessica Bandeira.

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