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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

O Porco Espinho (2009)


O Porco Espinho (Le Hérisson) de 2009 foi uma das melhores surpresas com o cinema francês que tive esse ano. Um filme extremamente sensível e também uma reflexão sobre a infância, o desgaste da rotina, sobre as pessoas se acomodarem em seus esconderijos, se apaixonar, encarar o sentido da vida e a morte como uma possibilidade. É todo ambientado em um prédio, especialmente na rotina de Paloma, Renée e Kakuro Ozu.

Paloma (Garance Le Guillermic) é uma garota introvertida, que tem a idéia fixa de suicidar-se quando completar 12 anos, no fim do período escolar. Apesar de inteligente, tem dificuldade em adaptar-se aos colegas e a rotina de casa, tende a enxergar a vida como uma série de eventos programados, que não fazem muito sentido. Ela leu que não importa as circunstâncias ou hora da morte, mas o que se está fazendo naquele exato momento. Por isso, planeja algo grandioso, gravar um filme sobre os últimos dias de sua vida.

Na primeira cena, sai pela casa com a câmera no braço, registrando qualquer movimento pertinente. Está deprimida pela dependência da mãe em antidepressivos e registra seus hábitos. Seu pai é bem intencionado, mas está muito envolvido com as finanças para se envolver. A irmã mais velha, parece sempre aborrecida e centrada em si mesma.

Renée Michel (Josiane Balasko) é a zeladora, uma viúva de 54 anos, detestada e invisível para a maior parte dos moradores e quando não está envolvida com a manutenção do prédio, vive solitária na companhia do gatinho Leo. Seus momentos de lazer consistem em degustar um chocolate e viajar através de algum livro de sua biblioteca.

Quando Kakuro Ozu (Togo Igawa) se muda para o prédio, a rotina dos personagens se entrelaçam. Paloma sabe um pouco de japonês e acaba fazendo amizade com o novo vizinho, indo visitar seu apartamento e brincando com sua netinha. Sr. Ozu é um homem curioso, assim como Paloma e ambos acham que Renée tem um segredo. Em um momento, Paloma faz alusão ao título do filme e descreve perfeitamente a zeladora: "Sra. Michel me lembra um porco espinho. Por fora é coberta de espinhos, uma fortaleza real. Mas, por dentro, tão refinada quanto este animal enganosamente indolente, extremamente solitária e terrivelmente elegante."
Paloma começa a visitá-la e acabam se conhecendo melhor. Na verdade, a menina fica fascinada com a tragetória de Renée, que é viúva e diz ser tolerada no condomínio por uma única razão, preencher perfeitamente o arquétipo da zeladora de um edifício: velha, feia e ranzinza. Paloma não concorda. Na verdade, a menina também espera tornar-se uma zeladora.

Sr. Ozu completa uma frase de Renée com uma citação famosa de Anna Karenina e desconfia que ela batizou seu gato por causa de Leo Tolstoy, o personagem literário. Certo dia, a presenteia com uma bela edição do livro e a convida para um jantar entre vizinhos. No início, Sra. Michel reluta em aceitar qualquer aproximação, afim de evitar "problemas", como costuma dizer.



Há algo muito triste na fortaleza que Renée construiu para si mesma, tão fechada e com aquela característica de alguém que escolheu viver alheia do mundo, como se já tivesse vivido a vida e agora a solidão fosse mais interessante. Paloma costuma dizer que ela encontrou o esconderijo perfeito, como uma zeladora, aproxima-se dos demais somente quando necessário e vive solenemente em seu apartamento sem ser notada de verdade. Quando Renée aceita o convite do Sr. Ozu para jantar, fica óbvio que ela ainda é sensível a gentileza e que não conhece sobre tudo. Mas apesar de Renée se alegrar com a companhia dos novos amigos, a qualquer momento parece estar pronta para recuar.

Renée e Ozu se reúnem para assistir a um velho filme em um projetor, jantam e conversam sobre os antigos parceiros enquanto ela se familiariza com a cultura oriental, desde a culinária até ser surpreendida por Mozart no banheiro. Acompanhamos como Paloma se sente enquanto compara sua vida a de Hubert, o peixinho da irmã, que vive entre os limites de um aquário. É irônico pensar que a menina está preparada para a morte, mas não para o imprevisível.

É difícil resumir tudo que senti assistindo ao filme, a não ser dizer que ele me tocou certeiramente!

Publicado por: Guilherme Toffoli

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