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domingo, 26 de janeiro de 2014

Gravidade (2013)

"Houston, I have a bad feeling about this mission."
 Eu demorei para assistir Gravidade propositalmente. Eu tinha um certo receio, uma espécie de angústia antecipada que o trailer me deu. Mas eu não tinha a mínima ideia do que estava por vir. Em primeiro lugar, posso definir o filme como um dos mais diferentes que já assisti, e os efeitos - ah, os efeitos - são de tirar o fôlego. E, eu sinto dizer, Sandra Bullock me deixou ligeiramente abalada no que diz respeito a minha torcida no Oscar para Cate Blanchett. Me sinto como uma mãe tendo que torcer por suas duas filhas disputando a mesma coisa.

Os comentários gerais são de que existe uma reação exagerada em torno do filme, e que as indicações ao Oscar - dez, no total - são igualmente exageradas. Será?

"Life in space is impossible."

No filme, Sandra Bullock é a engenheira médica Ryan Stone, em sua primeira missão espacial com a NASA ao lado do veterano Matt Kowalsky (George Clooney, apresentando uma variação de si mesmo). Ela se mostra insegura, e isso fica ainda mais nítido pelo fato de Matt estar em sua última missão antes de se aposentar - ela é séria em todo o momento, ao passo que ele não para de falar e contar piadas, talvez para fazer com que Ryan relaxasse. Nesse clima aparentemente descontraído, os dois trabalham em uma tarefa externa com mais um colega, quando são surpreendidos por um acidente, que acaba por mudar a vida de todos. Os únicos sobreviventes são a Dra. Ryan e Matt. A câmera passeia de um para o outro, e toda a imensidão do espaço, tão bela à primeira vista, e aparentemente tão ao alcance da ciência, acaba se tornando a principal inimiga dos dois personagens, quando eles perdem o contato com a Terra e flutuam à deriva, com poucas esperanças e não muito oxigênio.


Um dos méritos do filme, acredito, seja conseguir colocar o espectador na pele dos personagens, sobretudo de Ryan. Dois aliados nesse sentido são a câmera, que os acompanha girando e flutuando, e muitas vezes faz com que vejamos a cena com os olhos deles. Sentimos a tontura, o enjoo e até mesmo a falta de ar e, por fim, o desespero que Ryan sente ao se encontrar absolutamente sozinha no espaço. Outro fator que contribui para essas sensações é a atuação primorosa de Sandra Bullock, que entrou de corpo e alma na pele de Ryan Stone. Nela vemos o medo da solidão e da morte, e como ela foi marcada por um acontecimento trágico, que fez com que ela encarasse a vida de maneira indiferente. Acompanhamos a evolução da personagem, com o crescer do desespero e da ansiedade, com as esperanças desaparecendo e surgindo novamente, para logo um outro acontecimento destruí-las novamente...

É interessante esse contraponto que há em Gravidade. Na parte inicial vemos a tecnologia e a ciência no espaço e, por meio de Matt, a aparente facilidade rotineira de se trabalhar nele, para logo  ser atirado de encontro ao fato de que diante de toda essa imensidão somos incrivelmente pequenos e frágeis. Por meio dessa constatação, Alfonso Cuarón conduz essa história aparentemente simples e nos dá um dos filmes mais incríveis dos últimos tempos. Quando a Dra. Stone encontra na tragédia uma motivação para viver, Cuarón apresenta uma espécie de renascimento da personagem. Ela precisa sobreviver, ela tem um motivo para continuar vivendo. Resta saber se Ryan conseguirá, quando todas as chances parecem estar contra ela e não há mais ninguém para lhe ajudar.  O diálogo de Ryan consigo mesma é um dos momentos mais tocantes do filme, e que volta a tocar nesse ponto do renascimento para alguém sem esperança, e como ela mesma disse, sem ter para quem voltar. A batalha que ela trava dentro de si é o que dá o ponto alto de Gravidade e pode - com o perdão do clichê - até nos levar a enxergar a vida com outros olhos.


Não quero dar enormes spoilers além de tudo que já se sabe do filme, pois ele é uma surpresa. É angustiante e nos coloca na pele da personagem todo o tempo. O silêncio assusta, a paisagem tira o fôlego. Nós sentimos tudo com Ryan. É inevitável.

E falando em Oscar, não entendi a chiação e o mimimi de quem reclamou das dez indicações, todas merecidas. É natural quando se comenta muito alguma coisa, creio, mas nesse caso é injusto. Gravidade, com certeza, entrou na minha torcida. Assim como meu coração está dividido entre Sandra e Cate.

O filme vale muito MUITO muito a pena. Cada segundo. É uma experiência inesquecível.

Assista logo!


Publicado por Camila Pereira.

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