"All my life I stayed at parties too long because I didn’t know when to go."
Ser solteira é quase... uma profissão, digamos assim. Não uma profissão fácil, nem sempre feliz. Você pode ir em qualquer festa e existe aquele clima aparentemente forçado de "somos todos muito felizes, que ótimo, que barato", etc, etc. E no fundo, todo mundo espera alguma coisa acontecer, a qualquer hora, como se nossa vida fosse um filme, e o ponto alto, ou mesmo o plot twist ainda não tivesse chegado. No fim das contas, a maioria das pessoas - ou as pessoas muito viciadas em cinema, como essa que vos fala - espera esse tal de milagre, que muda tudo, e aí toca Ain't no Mountain High Enough quando você anda na rua, e fica tudo ótimo. Bem, muitas vezes esse plot twist demora, e talvez não venha nunca. Na verdade, isso parece coisa de gente que vive no mundo da lua. Mas bem lá no fundo, todo mundo espera o mesmo.
Essa busca por algo que é difícil de ser nomeado, é um dos motivos que levam Jane Hudson (Katharine Hepburn), uma secretária de Ohio, até Veneza. Na história de Quando o coração floresce (Summertime), ela embarca em uma jornada de autodescoberta e de aventura, e descobre que o tal do milagre não é tãããão impossível assim de acontecer.
Jane chega à cidade de Veneza repleta de sentimentos dúbios. Apesar de sentir uma alegria, mesmo que contida, ela tem dentro de si uma melancolia arraigada, e isso se percebe em seu olhar. E de repente, nos damos conta do que Jane quer. É óbvio que ela não admite isso facilmente; Miss Hudson se orgulha de ser uma americana independente, autossuficiente e de ser uma mulher realizando seu sonho de viajar para fora de seu país, finalmente. E no entanto, ao pisar em Veneza, parece que em todo lugar em que olha, Jane só vê casais felizes, enquanto ela admira a bela paisagem a sua volta fascinada, feliz... mas sentindo falta de algo.
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Curiosidade: Por causa da cena em que Jane cai no canal em Veneza, Katharine Hepburn adquiriu uma infecção nos olhos que prosseguiu até o fim de sua vida. David Lean, o diretor, apesar dos protestos da atriz, exigiu que ela caísse nas águas poluídas e fétidas do canal repetidas vezes, para que a cena ficasse boa. Dias depois, Hepburn teve uma conjuntivite da qual nunca se recuperou, e motivo pelo qual seus olhos sempre apareceriam lacrimejantes nas telas nos anos que seguiram.
Publicado por Camila Pereira



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