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quinta-feira, 13 de novembro de 2014

A era do rádio (1987)


"Agora tudo acabou. Exceto em minhas recordações. O cenário é Rockaway e a época é minha infância (...) perdoe-me se romantizo. A vizinhança onde cresci nem sempre era tão turbulenta e chuvosa, mas é assim que me lembro dela. Naquela época o rádio estava sempre ligado." 

Nunca escondi por aqui o fato de ter Woody Allen como diretor favorito. Já contei antes em outros posts como Woody sempre parece ter a palavra certa no momento certo. Assim, pareceu certo usar meu aniversário, que aconteceu por esses dias, como desculpa para comprar o box com 20 filmes seus. Faz algum tempo que eu e o dito box de dvds nos observamos mutuamente na Saraiva, e agora, fico feliz em dizer, estamos em um relacionamento sério.

O negócio é que eu, como pregadora da Igreja Universal do Reino de Woody Allen  fã do diretor, já assisti antes boa parte dos filmes que vieram na caixa. Masss, felizmente, ainda restaram alguns que, por algum motivo ou outro, eu ainda não tinha visto. E agora estou nessa aventura maravilhosa de ver o que falta. E escolhi começar com A era do rádio, de 1987.

Um dos filmes mais ternos de Woody Allen, me lembrou, entre outras coisas, de como o diretor consegue tirar o melhor dos atores com quem trabalha. Além disso, acredito que esse é o filme mais autobiográfico da sua carreira. Por fim, Woody consegue que o espectador acabe por sentir saudades de uma época  que não viveu. Senhoras e senhores, Radio days!
 "Nunca esqueci daquela noite de Ano Novo, quando a tia Bea me acordou pra ver 1944 chegar. E nunca me esqueci de nenhuma daquelas pessoas ou daquelas vozes que costumávamos ouvir no rádio. Embora, na verdade, a cada ano novo que passa, essas vozes parecem, de fato, cada vez mais e mais distantes."

Nostalgia é algo que cai bem em Woody Allen. O tema esteve presente em muitos dos seus filmes, tais como Meia-noite em Paris (com aquela velha saudade de um tempo que você não viveu) ou mesmo em A rosa púrpura do Cairo. Mas isso ficou ainda mais visível em  A era do rádio.

Pra começo de conversa: tudo remete à infância do diretor. Woody sempre se refere à infância como um período em que ainda conseguia ver a vida de outra forma, como quase toda a criança. Segundo Allen, quando ele se deu conta de que somos mortais e não duramos eternamente... bem, temos o Woody que nós conhecemos no cinema (O "I feel that life is divided into the horrible and the miserable" de Annie Hall, lembra?).

Woody Allen, ou melhor, Allan Stewart Königsberg e a mãe, Nettie. 

"Minha mãe costumava dizer que eu era uma criança doce e feliz desde sempre. E lá pelos meus cinco anos eu me tornei meio mal-humorado e azedo. Eu só posso achar que quando me dei conta da minha mortalidade, eu odiei a ideia; 'Como assim, isso termina? A vida não continua?'" (Depoimento do diretor em Woody Allen - Um documentário).

Cito esse documentário, pois ele mostra claramente a relação entre a infância de Allen e o filme A era do rádio. Quando a parte inicial da vida dele é contada no documentário, vemos cenas do filme que refletem exatamente as referências a esse período da vida do diretor.

"Quase não vivíamos sozinhos. Essa era a consequência da Grande Depressão, quando as famílias viviam juntas. Então, era sempre muito animado. As pessoas fazendo as coisas, e gritando umas com as outras, e toda a atividade. Era um hospício o tempo todo."

O filme reproduz essa atmosfera, e esse contexto serve como pano de fundo para mostrar a importância que o rádio tinha na vida das pessoas. O seu auge, os maiores momentos de glória do rádio aconteceram nas décadas de 1930 e 1940. Na família, cada um tem seu programa favorito, de acordo com a sua personalidade. Assim, vemos um lado da história: a influência que o aparelho exercia sobre as pessoas antes da chegada da televisão, nas décadas seguintes.

Além do lado dos ouvintes, temos também a visão dos verdadeiros astros da época: as pessoas que faziam o rádio, e levavam uma vida toda glamourosa. Uma dessas estrelas, é a cantora Sally White (Mia Farrow), a quem acompanhamos durante sua trajetória, de moça que vendia cigarros nas festas com sua voz estridente, até o seu auge como cantora consagrada do rádio. Além dela, vemos como certas figuras idealizadas pelo público, por causa da voz marcante, eram decepcionantes na vida real. É o caso do homem que interpreta o Vingador, herói das crianças, que na vida real é baixo, careca e pouco atraente. Temos ainda uma bonita homenagem à Carmen Miranda, quando a adolescente da casa dança ao som de South American Way. Além disso, a música fecha o filme durante os créditos finais. Por fim, a atriz brasileira Denise Dummont faz uma pequena participação cantando "Tico Tico", em clara referência à Carmen.

É importante destacar o quão fantástica Mia Farrow está nesse filme. Eu realmente não gosto dela como pessoa, nem como atriz, e, no entanto, Woody consegue tirar o melhor dela, em todos os filmes em que os dois trabalharam juntos.


Vale destacar também o grande elenco desse filme, composto por muitos nomes consagrados que fazem pontinhas ou papéis grandes, e que trabalharam ou viriam a trabalhar com Woody Allen, como: Tony Roberts, Dianne Wiest (que eu adoro, sobretudo nos filmes do diretor), Julie Kavner, Danny Aielo, Jeff Daniels, e até mesmo o músico e compositor Tito Puente! Por fim, Diane Keaton fecha com chave de ouro A era do rádio, cantando You’d Be So Nice to Come Home To, em uma participação mais do que especial.

Juntar a ex e a atual num filme: ADORO!

Radio Days, na minha humilde opinião, entra fácil na lista dos dez melhores de Woody Allen. É tão despretensioso, tão nostálgico, tão terno... O humor característico do diretor ainda está lá, na sua melhor dosagem. Enfim, o filme consegue o seu propósito: nos transportar para essa época, fazer com que nós compreendamos a importância do rádio naquele contexto, e mais: faz, como eu disse no início do post, com que sintamos saudade de uma época que não vivemos. E isso é MUITO Woody Allen.

Publicado por Camila Pereira.

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