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quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

#Top 10 filmes de Jeanne Moreau



No dia 23 de janeiro uma das maiores atrizes que o cinema francês já conheceu  - e não estamos falando sobre Catherine Deneuve, pardon - estará completando 87 anos. Jeanne Moreau tem uma carreira que se confunde com a própria história do cinema. Com 146 filmes no currículo ela se envolveu em muitos projetos ousados, incluindo um filme rodado no Brasil, Joana Francesa
E como nem só de Jules e Jim vive o homem, muito menos a carreira de Jeanne Moreau, o Cine Espresso homenageia esta legendária atriz escolhendo seus 10 melhores filmes. Eles não estão agrupados do mais fraco ao mais forte, para nós é muito difícil escolher apenas 10, acreditamos que todos são maravilhosos. Vem!


10) Os amantes (Les amants) de Louis Malle, 1958:

O ano era 1958 e os costumes burgueses começavam a mudar. A mulher, aos poucos, começava a afirmar sua independência de um casamento que, muitas vezes, era fruto de conveniências. É neste contexto que Os amantes se insere. Ele é tão emblemático de sua época que não foi a toa que os conservadores piraram e que a fama ~impura de Jeanne Moreau começou. Jeanne é Jeanne Tournier, "provinciana de nascença e educação", esposa do proprietário de um jornal. Sua vida é monótona, tediosa, cheia de amantes ocasionais, até que ela encontra um homem misterioso que muda os rumos do filme. A cena de amor entre os amantes, que dura quase 10 minutos, é uma das mais bonitas e sensuais do cinema. É como se o próprio Louis Malle, juntamente com sua câmera, estivesse fazendo amor com Jeanne. E se pensarmos que esses dois estavam amorosamente envolvidos faz todo o sentido. 




9) Chamas de verão (Mademoiselle) de Tony Richardson, 1966: Como estamos falando sobre Jeanne Moreau nunca há limites para a surpresa. A atriz fez de sua carreira uma série de momentos de tirar o fôlego e nos fazer pensar: "mas como assim, Bial?". Mademoiselle é um filme em que os forninhos vão caindo, um a um. Quando não há mais nada para cair é a a sua cara que vai ao chão. Há tanta tensão sexual neste filme que chega a ser perturbador. Jeanne faz o papel de uma professora de um vilarejo, reprimida sexualmente. Ela sacia seu desejo sexual fazendo mal aos outros. O roteiro é de Jean Genet, então vocês podem prever o que vem por aí. O que faz desse filme um must see na carreira de Jeanne é como se ela entrega ao papel e libera toda sua sensualidade. Ninguém sabe ser tão sensual quanto ela. O filme foi vaiado em Cannes, o que não nos surpreende afinal é essa a reação do público conservador ao ver uma mulher utilizando sua sexualidade como bem entende: o choque. Tony Richardson apaixonou-se por ela, o que nós mortais entendemos muito bem porquê.



8) Ascensor para o cadafalso (Ascenseur pour l'échafaud), de Louis Malle, 1958: 

Uma noite, após mais uma representação de Gata em teto de zinco quente, três jovens brotaram no camarim de Jeanne Moreau para apresentar-lhe projetos. Um deles era Louis Malle que lhe apresentou o script de O ascensor para o cadafalso. Eu diria que esse foi o filme que deu à Jeanne projeção internacional. E não é difícil descobrir porquê. Louis Malle já estava pra lá de apaixonado pela nossa diva e a filmou de uma maneira tão bonita e poética. E ao som de Miles Davis! Trata-se de um filme noir com ares poéticos, muito jazz, Maurice Ronet preso no elevador e Jeanne Moreau desesperada. Será que eles vão conseguir matar o marido dela? A sequência da chuva, em que ela caminha em direção ao nada, é um colírio aos olhos. Moreau ficou muito feliz que Malle a enxergou como a mulher que ela era na época, pois os diretores com que ela havia trabalhado anteriormente tentavam desesperadamente mudar seu rosto.


7) Aquele amor (Cet amour-là) de Josée Dayan, 2001:

Neném sem chupeta, Romeu sem Julieta e... Marguerite Duras sem Jeanne Moreau.

Marguerite e Jeanne tem uma parceria que não data de hoje. As duas se conheceram em 1958, quando Jeanne fez seu primeiro filme baseado nas obras da autora francófona, Moderato Cantabile. Quem lê ou já leu Marguerite Duras sabe que sua literatura é dura, pois nos mostra o lado mais triste e bonito da vida. Agora você combine essa grande autora  com todo o poder da atuação de Jeanne Moreau. Só poderia dar uma mistura pra lá de mortal. Moreau estrelou vários filmes baseados na obra de Marguerite, como O marinheiro de Gibraltar e Nathalie Granger. Ninguém consegue representar tão bem as personagens dela quanto Jeanne. Então não seria surpresa que Jeanne interprete Marguerite Duras em Aquele amor. Além da semelhança física surpreendente entre as duas (não dá para distinguir onde começa uma e termina a outra), Jeanne consegue trazer toda a personagem fascinante e difícil de Duras para a tela. Aquele amor é baseado no livro de Yann Andrea, um jovem que teve um romance com a autora no final de sua vida.

Esse filme mexe com nossos sentimentos, você ri e chora ao mesmo tempo. O que mais fascina nele é a maneira como o amor é mostrado. Ele é multifacetado, cheio de momentos emocionantes, momentos tristes. Parodeando Jeanne, é como se você sentisse o sangue de Marguerite correndo nas suas veias. A personagem tem 80 anos, mas você consegue encontrar nela seus próprios sentimentos, o medo da solidão, o medo de morrer. Aquele amor mostra de uma maneira cruel e ao mesmo tempo bela a finitude das coisas, da vida.

A cena em que os personagens dançam ao som de Capri c'est fini é uma das mais belas que já vi. Aliás a letra dessa música diz muito sobre o que vamos ver no filme:

Capri, acabou-se
E em pensar que foi a cidade do meu primeiro amor
Capri, acabou-se
Acho que não retornarei retornarei para lá um dia

Jeanne declara que interpretou Duras para responder aos seus próprios anseios e medos como a morte, o amor, a doçura, a crueldade entre os casais. Um must see dessa grande atriz. Leve uma caixa de lenços juntos, conselho de amiga.

6) La vieille qui marchait dans la mer de Laurent Heynemann, 1991:

Nós estávamos nascendo e Jeanne Moreau continuava a derrubar forninhos no cinema. La vieille qui marchait dans la mer foi baseado no romance  homônimo do escritor San-Antonio. Ele conta a história de três trapaceiros: Lady M. (Jeanne Moreau), Pompilius (Michel Serrault) e Lambert (Luc Thuiller). Apesar de ter 80 e tantos anos, locomover-se com a ajuda de uma bengala, Lady M. não parece ter envelhecido. Ela arma golpes, dá em cima de Lambert, alguns anos mais jovem que ela. Moreau prova que não é uma questão de idade; e sim de atitude.




5) A história imortal (The Immortal Story) de Orson Welles, 1968: 

O que é a Jeanne em A história imortal? Se os fornos foram caindo ao longo dos anos com cada cena de tirar o folego, em A história imortal ele também cai, e cai com gosto! Orson Welles, na época , recebeu uma oferta da TV francesa para fazer alguns filmes, porém com a condição de que eles fossem gravados em cores e posteriormente lançados no cinema. Orson não gostava de filmes em cores, mas mesmo assim aceitou o desafio. Escolheu um conto do autor dinamarquês Karen Blixen, de quem era grande fã, e Jeanne Moreau, considerada por ele “a melhor atriz do mundo” para o papel principal.  A história foi filmada em sua própria casa em Madri. No filme, Sr. Clay (Orson Welles) é um rico comerciante, no fim de sua vida, sua única companhia é o seu contabilista, chamado Levinsky (Roger Coggio). Uma noite, Levinsky menciona uma história ao Sr. Clay: a de um velho rico que oferece a um marinheiro cinco guinéus para dormir com sua esposa. Ele, obcecado pela história, quer de todas as formas torná-la realidade, e dessa forma contrata Virginie (Jeanne Moreau) para interpretar o papel de sua esposa. Virginie é filha do seu ex-sócio e vê a participação nessa história como forma de vingar a morte de seu pai causada pelas ruindades de Sr. Clay. É assim, nesse contexto, que Welles consegue filmar ângulos maravilhosos da Jeanne, entre eles, uma  cena da atriz deitada nua sobre a cama com as mãos cobrindo seus pequenos seios, como se fosse uma bela adormecida. 



4) Uma Dama em Paris (Une estonienne à Paris) de Ilmar Raag, 2012: 

Um dos mais recentes filmes de Jeanne Moreau  traz como tema o amor na velhice e a solidão. Pode o amor acabar após a pessoa se tonar idosa, e seu corpo envelhecer? Claro que não! Já dizia Barbara Stanwyck em “Pássaros Feridos” (1983). “[...] Dentro deste corpo destruído ainda sou jovem, eu ainda sinto! Ainda desejo! Ainda sonho! E ainda amo [...]”. Anne (Laine Mägi) é uma estoniana que após se separar do marido se dedicou a cuidar dos dois filhos e da mãe idosa. Logo após sua morte, ela,que trabalhou muitos anos como cuidadora de idosos em uma clinica, recebe uma oferta para cuidar de Frida (Jeanne Moreau) uma estoniana que fugiu da Estônia quando os russos invadiram o país. Aceitando essa proposta é que ela se muda para o país, porém não é bem recebida por Frida, que é uma idosa mal humorada que mora sozinha, já que não possui nem marido, nem filhos, e que tem como único consolo para sua solidão as visitas de Stéphane (Patrick Pineau) um ex-amante que a ajudou a construir seu restaurante, e que de certa forma mantem um divida eterna com ela por tê-lo ajudado. No desenvolvimento da história é que o diretor mostra toda a adaptação de Anne na França, a descoberta de um novo amor e a relação de amizade que se estabelece entre Anne e Frida. E se vocês pensam que só por que a Jeanne está com 84 anos não temos momento forno caindo, estão muito enganados! Na cena em que Stéphane deita ao lado de Frida na cama, e ela começa a apalpá-lo, revivendo as memórias do passado, vemos que o desejo por aquele homem não acabou. Essa cena é uma história a parte.



3) Querelle de Rainer Werner Fassbinder, 1982: 

A direção era de Rainer Werner Fassbinder, um diretor assumidamente homossexual, conhecido principalmente por ter dirigido As Lágrimas Amargas de Petra von Kant (1971) e que morreu antes da finalização do filme. O enredo é baseado no livro de Jean Genet, Querelle de Brest (1941), e o único papel feminino da história é de Jeanne Moreau. Ela era amiga de Jean Genet, e assim que foi convidada para atuar em mais uma adaptação para o cinema de suas histórias, claro que aceitou. Querelle é um filme polêmico, se é polemica, Jeanne está no meio. Ela exala erotismo, sensualidade a cada cena e dialogo, e o filme tem como um dos temas principais a homossexualidade. Tendo Brad Davis no papel principal, ele conta a história de Querelle, um soldado que chega ao porto de Brest e que se depara com um bar comandado por Nono (Gunther Kaufman), que joga com seus clientes um jogo de dados, no qual quem perde é obrigado a ter relações sexuais com ele e quem ganha pode ter relações com sua esposa, Lysiane (Jeanne Moreau) que por sua vez, tem uma amante, Robert (Hanno Poschl), irmão de Querelle. No jogo de dados, Querelle perde propositalmente o jogo e assim, tem relações com Nono. Paralelamente, o comandante do barco aonde Querelle trabalha, o tenente Seblon (Franco Nero) também sente atração por ele, praticamente um amor platônico, que é confidenciado ao seu gravador. E Lysiane nessa história? Odeia os homens da região, pois todos sentem mais prazer, tendo mais relações com homens do que com ela, ou seja, ela odeia os homossexuais. “Todo homem mata aquilo que ama” é a letra da canção, inspirada pela famosa frase de Oscar Wilde, e interpretada por Jeanne no filme. Querelle é um filme complexo, Jean Genet é complexo! O que deixa o espectador um tanto quanto confuso, mas o autor sabe mostrar de forma realmente intensa a complexidade dos sentimentos e das relações humanas. Fassbinder dedicou o filme a um dos seus mais queridos amantes.



2) Duas almas em suplício (Moderato Cantabile) de Peter Brook, 1960:

Primeiro filme da dobradinha Duras-Moreau, Moderato Cantabile tenta responder a própria Jeanne uma questão que sempre a perseguiu: qual é o sentido da vida de uma mulher insatisfeita com sua condição? Ele conta a história de Anne Desbaresdes (Jeanne Moreau), que não se adapta muito bem a sua condição de mulher de um rico industrial. Seu bálsamo é levar o filho às lições de piano (moderato cantabile é cantar em ritmo moderado). Um crime passional cometido nos arredores desperta uma estranha fascinação em Anne, que conhece Chauvin (Jean-Paul Belmondo), empregado da fábrica de seu marido. O amor entre os dois é inevitável. Peter Brook, assim como outros diretores que trabalharam com a atriz, só tinha elogios a sua protagonista: "Moreau é uma verdadeira médium. Ela não faz as coisas por um processo lógico nem analítico. Ela aceita simplesmente que a verdade passe por ela e que a ultrapasse. Ela se doa a essa verdade". Já Marguerite declarou que Jeanne sempre queria saber mais sobre Anne Desbaresdes para poder melhorar sua interpretação. Duras praticamente tinha de lhe dar um dossiê completo da personagem! Sua performance lhe valeu o prêmio de melhor interpretação feminina no Festival de Cannes em 1960.




1) A noiva estava de preto (La mariée était en noir) de François Truffaut, 1968:

A noiva estava de preto não é o filme mais popular de Truffaut, mas suas referências pipocam nas mentes dos fãs de Tarantino. Antes de Kill Bill houve A noiva estava de preto, uma história de vendetta no melhor estilo italiano. Após ter o noivo morto bem no dia de seu casamento, Julie Kohler (Jeanne Moreau) decide se vingar dos assassinos de seu amado. Parece-nos difícil encontrar um diretor que não tenha caído de amores por nossa diva lacradora e com Truffaut não poderia ter sido diferente. Eles já haviam trabalhado juntos em Os incompreendidos e Jules e Jim: uma mulher para dois e ele acreditava que a atriz tinha as melhores qualidades de um homem e de uma mulher. O diretor também admirava sua energia inesgotável para o trabalho. Ela tem a força física de uma camponesa acostumada a trabalhar muito, que está em pé desde às seis da manhã - ele declara.





Gostou? Que o dia 23 de janeiro seja uma data de descoberta e (re)descoberta para todos os fãs dessa grande atriz. Feliz aniversário, Jeanne!


Publicado por Patrícia Jarra e Jessica Bandeira.


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