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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

#Top 100 Looks do cinema - #3 - Marlene Dietrich em "O Expresso de Shangai" (1932)


Vamos à mais um dos figurinos da série sobre os looks do cinema?

Por Lucas Kovski

Exotismo, barroquismo e tecnologia, aliada ao figurino, usados por Marlene Dietrich em O Expresso de Shangai.

Desenhado por, ninguém mais, ninguém menos, que um dos maiores figurinistas das décadas de 20/30/40, o chefe de design da Paramount, Travis Banton, um dos maiores sinônimos de moda no cinema. Seu estilo de cortes simples e fluídos, geralmente feitos especialmente para aderir ao corpo da atriz, e aliados sempre a algum tipo de detalhe que adicione glamour barroco ao look (penas, paetês e peles), é uma das marcas do glamour Hollywoodiano da década de 30. Segundo Banton "Nenhuma roupa é totalmente sem graça, só precisamos de uma dúzia de penas e algumas lantejoulas".

Tal marca alcançou seu status icônico no famoso conjunto usado por Marlene Dietrich em O Expresso de Shangai, de 1932.

Marlene Dietrich tinha feito outros três filmes nos EUA, mas Shangai Express elevou definitivamente seu status para estrela. O diretor Josef Von Sternberg, que dirigiu Marlene em 6 de seus filmes, incluindo o tão famoso Anjo Azul (1930), aliava a imagem exótica da atriz a inovadora técnica de iluminação de tungstênio , uma novidade para a época.  Os closes e o contraste de claro e escuro são as marcas registradas do diretor, e elas ficam evidenciadas nesse filme. A iluminação era uma parte tão importante do filme, que o figurino obviamente tinha que ser uma das ferramentas para "endeusar"  miss Dietrich.

Nota de quem publica: BICHA, A SENHORA
É DESTRUIDORA MESMO, VIU VIADO?
Travis desenhou o longo de modo que ele parecesse ser mais complexo do que ele é. Marlene era magra e alta, o que contribuiu para que o corte do vestido não parecesse tão reto, de forma  que parece estar literalmente moldado no corpo da atriz, um efeito conseguido pelo fato do vestido ser um pouco mais justo na frente e um pouco mais frouxo atrás; assim, os ombros de Marlene podiam sustentar todo o vestido de modo que ele não parecesse afrouxado. O vestido estava apenas alguns centímetros acima das reais medidas de Dietrich, um truque que Banton usou durante toda sua carreira. As mangas longas dão o toque de formalidade do look, afinal, ombros à mostra em plena estação eram considerados vulgares na época, e também demonstram um toque de seriedade, fechando mais o visual e dando um ar mais claustrofóbico em todo o figurino. O cinto é outro acessório colocado para dar um toque mais sério e para ajudar a compor a postura da roupa.

No entanto, o grande trunfo de toda a roupa são os acessórios, em especial a echarpe de penas rabo de galo, que além de darem um ar de exotismo e dramaticidade a todo o look, moldam discretamente o rosto de Marlene, e tem um trunfo escondido: elas refletem a luz vinda dos refletores diretamente para o rosto da atriz,  fazendo com que seja o ponto de luz em todo o negro da roupa. Travis e Josef testaram vários tipos de acessórios (inicialmente seria uma pele), até chegarem até o tipo de penas usadas na echarpe. Cuidadosamente costuradas ao longo de uma fita de cetim negra, as penas eram cuidadosamente colocadas em espiral, de modo que não tapassem, nem atingissem o rosto de Marlene, e assim acabassem por prejudicar o desempenho da atriz. O efeito conseguido é de que as penas envolvem todo o seu corpo e fazem parte do vestido, e assim contrapõe a aparente simplicidade do corte e do tecido.

Outra grande sacada de Travis foi o detalhe , que além de aumentar a claustrofobia do look, adicionou o contraponto claro para toda a escuridão:  as luvas de couro especialmente feitas para Marlene, que era preta na parte de cima e branca na parte de baixo. A luva fecha o look ao esconder as mãos, a única parte do corpo de Marlene, além do rosto, que fica exposto. Foram feitos dois pares, um mais apertado, e um que afrouxava nos pulsos, que foi usado no filme. Marlene ficou com as luvas para tê-las em seu guarda roupa pessoal, após o filme.

O chapéu também foi feito sob medida por um dos maiores chapeleiros de Hollywood, chamado carinhosamente de "Mr John". Ele "fecha" por completo o look, preso por uma fila de grampos colocados junto ao cabelo da atriz. Além da fila de penas colocadas no chapéu que combinam com a echarpe, ele apresenta outro detalhe para aumentar o mistério envolto em torno da imagem da personagem Shangai Lily: o véu, estrategicamente colocado sob os olhos de Marlene. Segundo a própria atriz, foi o detalhe mais difícil para Mr John, já que ele teve que fazer a medida exata para cobrir seus olhos, e envolvê-los em torno do fino véu de renda. Esse detalhe é considerado uma das grandes jogadas fashions do cinema, e o chapéu usado por Marlene nesse é colocado como um dos 50 chapéus que mudaram o mundo, segundo o Design Museum.

Para adicionar um pouco de veracidade ao look, Travis usou as influências asiáticas nas joias usadas por Marlene. As contas transparentes dos seus colares eram muito populares nos mercados chineses e tailandeses; já que a personagem de Dietrich era uma cortesã conhecida por toda China, é de se esperar que ela carregasse alguma influência. Os três pares de colares, um transparente, um preto e um branco,  ajudam a completar todo o jogo de luz e sombra do figurino.

O vestido está atualmente em uma coleção privada; a última vez que foi apresentado ao público aconteceu em uma exposição de figurinos no Museu James A. Michner Art, em 2010.

Texto de Lucas Kovski.
Publicado por Camila Pereira.

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