Recentemente
tive um surto em um site de compras online e comprei cinco livros de uma vez.
Um desses livros era Love, Lucy, a
autobiografia de Lucille Ball. Gostaria de estar lendo o livro na época em que
escrevi meu post sobre sua série, porém não podemos prever o andar da
carruagem. O fato é que terminei o livro hoje e achei digno fazer outro post
sobre ela, agora claramente direcionado para o lado Hedda Hopper, ou seja, o
lado Sônia Abrão da história.
Sobre Lucille
Ball, Hedda Hopper dizia que ela era uma das garotas mais fortes em Hollywood,
tendo em vista que demorou muito tempo para tornar-se uma estrela de verdade.
Aliás, Hedda a adorava. O fato é que Lucille comeu o pão que o diabo amassou,
digamos assim, antes de se tornar Lucy Ricardo. Em seu livro, ela nos conta
sobre o dia em que jogou café de propósito pelo camarim em que Katharine
Hepburn estava, pois o cabelereiro não fez questão de devolver seu lápis para a
sobrancelha. Lucy havia sido expulsa de seu camarim com a chegada da nova
estrela. Mais tarde, Kate teria dito a ela: “Não tem problema, Lucille [sobre o
incidente com o café], mas você precisa controlar seu temperamento. Quando você
for uma estrela, poderá ser temperamental”. Lucille fez escola com a mãe de
Ginger Rogers, que era uma espécie de mãe-coruja na época da RKO. Ela adotou
Lucille e lhe ensinou basicamente tudo que ela precisava saber para ser uma
estrela. Anos mais tarde, a própria Lucille teria sua própria “escola” de
atores, apadrinhando centenas de jovens ansiosos pelo sucesso.
Só que Lela
Rogers não havia ensinado a red head
boas maneiras quando se tratava de casamento. Um dia, após uma briga com o
marido Desi Arnaz, Lucille saiu de casa, foi até o trailer do casal e quebrou
as janelas, uma por uma. Mas vamos rebobinar essa história. Lucille e Desi se
conheceram na época da RKO, quando ela estava fazendo o filme Dance, girl, dance, em que interpreta
uma dançarina estilo sensualizando. Ela passou por ele, vestindo o figurino
utilizado em uma das cenas de dança, e BUM!, seu coração fez chica chica boom
chic. Eles foram a uma boate na mesma noite e conversaram muito. Lucy diz que
“I might as well admit here and now I feel in love with Desi wham, bang! In
five minutes”. Era o começo de uma grande história de amor, e como todas as
histórias desse gênero, cheia de turbulências, brigas e mimimis.
Desi viu Lucille nesse figurino e caiu de amores por ela. Não é para menos...
Eles sabiam que
não poderiam casar. Existe, aliás, uma foto tirada no El Morocco em New York, mostrando o desapontamento dos dois.
Naquela noite em que a foto foi tirada, eles haviam decidido que nunca se
casariam. Isso porque o estúdio jamais permitiria, já que Desi era desejado pelas
fãs, que não ficariam nada contentes com a existência de uma Sra. Arnaz. Além
disso, seria difícil com as carreiras de ambos levar um casamento adiante. No
entanto, a promessa não durou muito. Desi a levou para se casar, apesar dos
protestos dos amigos, que achavam que a coisa não ia durar nem seis meses. A
diferença de seis anos entre eles os incomodava, assim como incomodava Lucille.
Mesmo não mencionando o traquejo de Desi com as mulheres, creio que isso também
incomodava. Mas o fato é que eles se casaram e compraram um rancho, que
nomearam de Desilu.
O desejo de
trabalharem juntos era muito grande. Ao começar no rádio, no programa My favorite husband, Lucille implorou
para que o papel do marido fosse de Desi. Contudo, foi recusado. Além desse
desejo de trabalharem juntos, ter um filho era outra prioridade para eles. Ela
abortou três vezes até ter sua primeira filha, Lucille Desirée. A história do
nascimento de Lucie se confunde com a de I
love Lucy, poderíamos dizer.
Quando Lucy
ficou grávida pela 4ª vez, o casal decidiu parar tudo. Os abortos espontâneos
de Lucille os deixaram alertas, por isso decidiram tirar um sabático para
dedicar-se a essa criança que estava para chegar. Todavia, na mesma época,
receberam uma oferta da CBS, que queria financiar um sitcom doméstico tendo os
dois como protagonistas. E agora? Carole Lombard (muito amiga do casal)
apareceu para Lucille em sonho e lhe disse para seguir em frente. Então eles
começaram a trabalhar duro para originar o que conhecemos hoje como I love Lucy. Discutindo com os
escritores, Desi acabou sem querer decidindo o nome do programa. “Ela é assim,
é assado...ah, como eu amo essa Lucy!”. Assim nasceu um dos nomes mais
apropriados para uma série, em minha opinião.
O piloto da
série foi gravado quando Lucille estava grávida, podemos perceber isso pelas
roupas largas que ela usa. No 4º episódio, a série já era a mais assistida nos
Estados Unidos. I love Lucy era uma
espécie de corrente, mas ao contrário do que aconteceu ao Fleetwood Mac, ela
não conseguiu se manter unida quando o casamento de Lucy e Desi começou a
desmoronar. Antes disso, eles viveram tempos realmente felizes. Lucille,
inclusive, se confessava culpada por essa felicidade. Ela achava que a qualquer
momento algo de muito grave aconteceria e estragaria essa felicidade. Isso
porque depois de dez anos tentando, teve dois filhos em um intervalo curto de
apenas um ano. O programa ia muito bem, eles eram adorados e tudo mais. Talvez
fosse a influência da avó emprestada que lhe ensinou que ter demais não era
bom, um princípio católico. O fato é que Lucy superou a paranoia e I
love Lucy parecia uma mina de ouro sem fim. Mas o momento Hedda Hopper não
teria seu valor, se não acontecesse uma catástrofe: o desmonamento do
casamento. Na verdade, o casamento deles simplesmente não desabou do nada. Ele estava,
há muito tempo, nesse processo. Segundo ela mesma, eles eram muito diferentes.
Desi não gostava de seu lado conservador; ela de sua impulsividade. Desi era um
gastador, gostava de perder dinheiro no jogo. Em momento algum do livro temos
conhecimento se ele era mulherengo ou não, como dizem as más línguas.
Com o final de I love Lucy, os produtores começaram a
se dedicar a um programa de uma hora de duração, o Lucy Show. O estresse de administrar a Desilu (a empresa dos dois,
que tinha uma fatia nos lucros da série junto com a CBS) estava acabando com
Desi. Ele se distanciava cada vez mais, às vezes ficando sozinho. O monstro só
foi crescendo e, numa tentativa de salvar o casamento, eles viajaram para a
Europa. Contudo, a tentativa pareceu não dar muito certo. O clima no set de Lucy Show começou a ficar sombrio. A
alegria estava morrendo, segundo uma funcionária da Desilu. Lucy apenas seguia
as ordens de Desi, sem dar um pio. Um dia, em uma cena em que Lucy estava
vestida de gueixa e com os olhos vermelhos de tanto chorar, ela decidiu que era
hora de terminar com o sofrimento. Após o programa, eles chamaram um advogado
para se divorciarem. No dia 3 de março de 1960, eles estavam filmando para o
programa de Ernie Kovacs um episódio em que Lucy tenta desesperadamente fazer
Ricky entrar para o programa dele. No final do episódio, Ricky tinha que
beijar Lucy, vestida com um uniforme de chofer. Quando a cena chegou ao fim,
eles se olharam, abraçaram-se, Desi beijou Lucy, ambos choraram muito. It marked the end of many things, ela diria.
Vivian Vance, a
Ethel de I love Lucy, ajudou-a muito
no período pós-divórcio, pois também estava passando por um. Houve uma
camaragem no sentido de que ambas sentiam-se miseráveis. Ela casou-se novamente
com Gary Morton. O senso de independência de red head a ajudou a seguir em frente, ao contrário de Desi, que não
ficou um bom tempo na miséria sentimental, quase se atirando das janelas.
Essa Hollywood
tem tanta tragédia escondida por trás dos sorrisos e risadas de seus atores que
nem sei lidar.
Publicado por:
Jessica Bandeira.
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