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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

O Mensageiro do Diabo (1955)


Encontrei The Night Of the Hunter (O Mensageiro do Diabo, no Brasil) numa lista de indicações sobre filmes de suspense. Finalmente assisti numa noite dessas e para os padrões de hoje não chega a assustar, apesar da proximidade com o macabro. É o único trabalho do premiado ator Charles Laughton na direção, e o cara mandou bem - é definitivamente uma das melhores fotografias em preto e branco que já vi, a luz da lua refletindo no rio remete facilmente à uma bela pintura! Stephen King indicou o filme como "um grande exemplo de um clássico do terror", tive que concordar!

Me surpreendeu o nome de Lillian Gish nos créditos, não sabia que ela participava deste e sempre quis conhecer melhor o trabalho da atriz, hoje lembrada como primeira-dama do cinema mudo e um dos poucos nomes que conseguiram adaptar-se à nova Era, fazendo filmes de 1912 até 1987, quando se "aposentou" ao lado de Bette Davis em Baleias de Agosto.

Ainda nos créditos iniciais, uma orquestra dramática se junta às vozes de crianças, que poderiam estar em um coral, cantando um tema religioso. É então que Rachel Cooper (Lillian Gish) lê um versículo a respeito de "falsos profetas que se apresentam disfarçados de ovelhas, mas que por dentro são lobos vorazes", mensagem que compreendemos ao longo do filme.

Quando Harry Powell (Robert Mitchum) surge na primeira cena conversando com Deus, percebi que o vilão trata-se de um sádico religioso e realmente é. O filme foi mal recebido pelo público e crítica especializada. Apesar de hoje estar listado entre os 100 maiores filmes dos EUA, na época deve ter gerado incômodo mostrar a hipocrisia de um sujeito que manipulava as pessoas se apresentando como um homem de Deus. Mas não é por aí, a narrativa utiliza versículos da Bíblia que exemplifica situações, mas não toma partido, pelo contrário: demonstra a importância e as proporções que a fé toma na vida das pessoas. E só.

Harry Powell divide a cela de um presídio com Ben Harper (Peter Graves), que matou duas pessoas enquanto assaltava um banco, de onde roubou 10 mil dólares e agora aguarda o dia de sua execução. Na noite antes de ser "pendurado", murmura durante um sonho palavras sobre o dinheiro, chamando a atenção de Harry. Ben escondeu o dinheiro e pediu aos dois filhos pequenos que o guardassem e nunca contassem a ninguém.

Depois de ser julgado e liberado, Sr. Powell  chega na cidade onde Ben vivia e é recebido pela comunidade com a hospitalidade digna de um reverendo "virtuoso" como ele. Chama a atenção a tatuagem que carrega nos dedos, onde numa mão lê-se "Amor" e na outra "Ódio", o homem inspira ainda mais confiança quando explica o motivo. "Would you like me to tell you the little story of right-hand/left-hand?" As palavras representam a metáfora sobre a luta constante entre o bem e o mal, afirmando que o lado bom é sempre mais forte.

Logo o persuasivo Sr. Powell conquista seu objetivo e se casa com a viúva de Harper. Uma surpresa é quando ele se recusa a ter intimidades com a mulher, fazendo-a se sentir culpada por seus desejos e consegue convertê-la. Só a forma como o filme chega nesse ponto já me choca e ainda há muitas reviravoltas pela frente! Para não arruinar a surpresa com spoilers, digo apenas que ele aterroriza as crianças. John e Pearl, filhos do casal são personagens fundamentais e afirmo com certeza que se as crianças não fossem boas, mesmo com Robert Mitchum e Lillian Gish no elenco, o filme perderia totalmente a veracidade.

O romance de Davis Grubb que originou esse filme é baseado em um serial killer da vida real chamado Harry Powers, imagino que se o livro transmite metade do clima sombrio e de desespero existente no filme, deve ser um ótimo passatempo. Já tinha visto Robert Mitchum em outros filmes e jamais imaginei que levasse tanto jeito para interpretar um vilão como esse! Anos mais tarde ele conta em sua biografia que "Night of the Hunter" é seu filme favorito entre os que atuou e que Charles Laughton foi seu melhor diretor. Imperdível!


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Publicado por Guilherme Toffoli

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