Quinta-feira, dia 15 de março de 1945. E lá se ia embora o Oscar de melhor atriz, nas mãos de Ingrid Bergman, quando deveria estar nas de Barbara Stanwyck. Billy Wilder também viu o Oscar de melhor filme e diretor ser surrupiado de suas mãos. Em 1945, as coisas não eram muito diferentes do que vemos nas premiações de hoje. Hollywood já era especialista em premiações arbitrárias.
O Cine Espresso continua a série de posts sobre a premiação do Oscar, dessa vez relembrando o melhor e o pior da cerimônia de 1945.
Melhor filme: O bom pastor de Leo McCarey
A Academia escolheu amar O bom pastor, pois o filme varreu as premiações, levando 7 estatuetas para a casa. Ele conta a história do Padre Chuck O’Malley (Bing Crosby), que entra em uma paróquia para substituir o conservador Padre Fitzgibbon (Barry Fitzgerald). Estava tudo indo bem até a igreja ser incendiada e dali em diante Padre Chuck terá que provar que merece estar ali. Com um roteiro comum desses, a gente pensa que os outros indicados não deveriam ser lá grande coisa para O bom pastor ter vencido. Só que não! Filmes ótimos como À meia luz também estavam concorrendo na mesma categoria. Porém, o ano de 1944 fora de Pacto de Sangue. Direção impecável de Billy Wilder, roteiro ímpar e atuações também. Pensava-se que o filme iria varrer as premiações, mas saiu de mãos abanando. A explicação mais lógica que podemos encontrar para tamanha flopagem é que Hollywood estava saindo da Segunda Guerra Mundial e quis premiar filmes otimistas; não um que falava sobre assassinato e traição.
Melhor atriz: Ingrid Bergman por À meia luz
A Academia tomou cachaça Velho Barreiro e eu não fiquei sabendo? Certa vez li um artigo que defendia a tese de que Ingrid Bergman ganhou o Oscar pelos filmes errados. E não é que é verdade? Dizem que À meia luz foi um prêmio de consolação por a atriz não ter vencido no ano anterior por Por quem os sinos dobram. Como defendi em meu texto sobre À meia luz, o problema não é a atuação de Ingrid, pois isso é sublime. O problema é que neste ano alguém havia derrubado todos os fornos em um papel pra lá de ozado, que arriscou sua carreira para se tornar a musa do filme noir: Barbara Stanwyck. Esta foi a segunda vez que a atriz foi ignorada pela Academia, talvez a que doa mais no coração. Stany tem um histórico de ignorância por parte da Academia. Basta assistir Pacto de Sangue para percebemos que ela se entregou ao cinismo de Phyllis Dietritchson. É como se você estivesse diante de outra atriz, tão diferente daquilo que Missy estava acostumada a interpretar. A atriz está serving cinismo, sensualidade e uma aula de atuação realness! Mas é claro que a Academia não premiaria uma personagem tão “promíscua” quanto Phyllis. Missy viu o Oscar ser surrupiado por um filme que nem é o melhor de Ingrid Bergman! E os filmes ao lado de Rossellini? Ah, não pode premiar esses, afinal pertencem à fase “biscateira fugitiva” de Bergman. Dá licença, preciso tomar meu mojito depois disso.
O filme injustiçado do ano (da vida, do século, de tudo): Pacto de Sangue de Billy Wilder
1945 foi o ano de O bom pastor. E nós sabemos que quando a Academia implica com algo para o bem ou para o mal o resultado é: ou varre os prêmios ou não ganha nada. Pacto de Sangue foi um desses filmes implicados pela Academia. Vai dar o Oscar para um filme onde uma mulher casada aparece só de toalha para um homem desconhecido no alto de uma escada? Isso non ecziste! Padre Quevedo feelings. Pacto foi indicado em sete categorias e não ganhou nada. Nem tchau cachorro. A Academia tomou várias doses de conservadorismo e não deu nenhum prêmio para um dos maiores filmes noir de todos os tempos. A história do vendedor de seguros que se une a uma mulher para matar o marido desta parecia não fazer jus aos valores americanos. Não há palavras que justifiquem o que a Academia fez ao não reconhecer esse filme. Billy ficou tão furioso por ter injustiçado que quando Leo McCarey levantou-se para buscar seu Oscar de melhor diretor por O bom pastor, ele colocou o pé para que ele tropeçasse. The shade, the shade of it all!
A canção injustiçada do ano: The trolley song de Agora seremos felizes
Mas eu não estou dizendo que essa Academia entrou em coma alcoólico depois de tomar uma garrafa de cachaça Velho Barreiro? Antes que vocês pensem que estou sendo muito malvada feat reclamona, reflitemos: a música de O bom pastor é um clássico? Vocês a conhecem? Quando essa música toca, vocês a reconhecem imediatamente? A resposta é nããããããão! *Mara Maravilha Feelings* The trolley song é uma das canções mais conhecidas de Judy Garland e eu o desafio a me dizer que não fica cantando enquanto está assistindo ao filme. Portanto, convém perguntar: NÃO LEVOU O OSCAR POR QUÊ? As canções de Agora somos felizes também concorreram ao Oscar de melhor trilha sonora e não levou. Não levou! Nosso consolo é saber que esse musical cativante de Minnelli se tornou um clássico enquanto a canção de O bom pastor… deixa pra lá.
Oscar Juvenil: Margaret O’Brien por Agora seremos felizes
Taí um acerto da Academia em 1945. Margaret fez o papel da irmãzinha de Judy Garland em Agora seremos felizes e é impossível não encantar-se com ela. Tão novinha e tão talentosa! Lembro que uma amiga me mostrou uma cena de um outro filme de O’Brien, onde ela precisa chorar, e, gente, essa garota sabe verter umas lágrimas! Quando Judy canta para ela Have yourself a merry christmas e O’Brien está com aquele olhar triste e distante, o Oscar Juvenil parece fazer todo sentido.
A pequena Margaret O'Brien oscarizada. |
Outros fatos interessantes:
- A partir de 1945, seriam apenas cinco filmes indicados ao Oscar de melhor filme. Nos anos anteriores, tínhamos dez ou doze filmes;
- Barry Fitzgerald foi nomeado em duas categorias pelo mesmo papel: melhor ator coadjuvante e melhor ator. Venceu como ator coadjuvante e essa foi a última vez que um ator pode concorrer pelo mesmo papel em duas categorias diferentes;
- Foi o primeiro ano em que a cerimônia foi inteiramente transmitida pela emissora de rádio ABC;
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