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quarta-feira, 15 de abril de 2015

Na cama com Madonna (1991)

 She doesn't want to live off-camera, much less talk. There's nothing to say off-camera. Why would you say something if it's off-camera? What point is there existing? (Warren Beatty)
Madonna é um ícone que dispensa apresentações. Na música pop ela foi responsável por abrir caminho e derrubar barreiras, sendo quase que diretamente responsável pela liberdade que as divinhas pop de hoje em dia tem. Pode anotar: quase tudo que elas fazem, a chamada Rainha do Pop provavelmente já fez antes. Apesar disso, Madonna não é unanimidade - tem haters na mesma medida que tem fãs.

Grande fã do cinema clássico, que já homenageou diversas vezes de muitas formas, tendo como inspiração nomes como Marlene Dietrich e Marilyn Monroe, parece quase óbvio que uma hora ou outra ela acabaria se arriscando no mundo do cinema. Até mesmo seus dois casamentos foram com homens do meio (Sean Penn e Guy Ritchie), e abriram portas nesse sentido. Mas as incursões de Madonna no mundo da sétima arte não foram bem sucedidas na maior parte do tempo. Mesmo tendo levado um Globo de Ouro pela bela atuação em Evita (1996), a cantora foi alvo de chacota em muitos de seus filmes - já ganhou inúmeros Framboesas de Ouro e até mesmo foi eleita a pior atriz do século. Mesmo as suas tentativas de dirigir filmes, foram ridicularizadas.

Em 1991, quando Taylor Swift ainda usava fraldas, Madonna estava no topo do mundo. Acumulando sucessos e polêmicas, ela consolidou a imagem de Rainha do Pop durante a turnê Blonde Ambition. No show, munida de seu famoso sutiã de cone de Gautier, ela jogava na roda temas como religião, sexo, família, relacionamentos - tudo na mesma intensidade. O documentário Na cama com Madonna acompanha a intensa turnê, e mostra a cantora da maneira como ela gostaria de ser vista - ou seja, foi atuação pura. Uma mãe para os seus dançarinos, uma guerreira na luta pela igualdade, um ícone.

A melhor atuação de Madonna não foi como Eva Perón, ao contrário do que a maioria pensa.

A melhor atuação de Madonna foi vivendo Madonna nesse documentário. Da maneira como ela se via: uma deusa, uma louca, uma feiticeira um ícone pop, uma diva irresistível. Uma lenda.



Antes que alguém rode a baiana: eu amo Madonna, e sou incrivelmente fã da velha (como carinhosamente nos referimos a ela). Mas ser fã não deveria pode ser ficar cego para as falhas do ídolo. Perdi a conta de quantas vezes assisti Na cama com Madonna, e me diverti sempre com aquele que considero o seu auge. Mas não dá para negar que ali quase tudo não passa de encenação de Madonna. Um narcisismo bem do safado, como não poderia deixar de ser, e que fica óbvio na frase de Warren Beatty que abre esse post, dito em um momento em que a cantora é examinada por seu médico. Beatty, galã dos galãs de Hollywood, considerado um dos maiores passadores de rodo, na época saia com Madonna, e é exposto em vários momentos do filme: até as ligações deles são mostradas. Quando um sarcástico Beatty se dirige a câmera com a frase citada acima, dita quando a cantora se recusa a deixarem as câmeras serem desligadas durante o exame do médico em sua garganta, percebemos que ali estava um cara não acostumado a ficar em segundo plano. Quando dois narcisistas se juntam, bem... talvez não dure.

Mas, vamos por partes. A relação desse casal improvável (que começou no set de Dick Tracy) é só um dos muitos pontos tratados no decorrer de Na cama com Madonna, é, como o título já insinua, dedicado a explorar a intimidade da cantora durante a louca rotina de uma turnê. O irmão de Madonna, Christopher conta em seu livro caça-níquel, que o documentário teve muita coisa planejada sim, de modo a mostrar Madonna quase como uma entidade. Alguém perfeccionista e durona por fora, quase inatingível - mas que no fundo é só uma simples garota sensível.

Na verdade, Madonna quer mesmo, no final das contas, escandalizar e causar polêmica.

Madonna se frustra na tentativa de conquistar
Banderas, mas solta aquele veneninho básico

E ela não decepciona: debocha de Kevin Costner; faz de Warren Beatty gato e sapato (centenas de mulheres devem ter se sentido vingadas); dá em cima de um casado, e então desconhecido do grande público, Antonio Banderas; coloca em discussão e condena a homofobia; confirma as suspeitas gerais e declara seu amor por Sean Penn; simula masturbação no palco; quase vai presa; visita o túmulo da mãe (coisa que não tinha o hábito de fazer, mas, ah, as câmeras estavam lá!); media a relação entre seus dançarinos; discursa sobre liberdade de expressão para a impressa; faz compras acompanhada de toda a sua gangue; paga peitinho; faz D.R. com a família Ciccone; e naquela que talvez seja a sequência mais memorável do filme, demonstra em uma garrafa como pratica sexo oral, durante uma sessão de truth or dare (daí o título original do doc) com os dançarinos e as backing vocals.

Não é à toa que essa mulher lançou um livro chamado Sex.

Coreografado, ok, mas não menos tocante: ao som de Promise
to try
, a visita ao túmulo de Madonna mãe.

Dirigido por Alek Keshishian, o documentário tem uma linda fotografia em preto e branco - mas ganha cores vivas e um tom intimista durante as sequências musicais durante os shows. No ano passado, consegui baixar Na cama com Madonna em blu-ray, e quase chorei com a beleza do resultado, que é de encher os olhos. Ainda vou ter esse item na minha estante! Afinal, é quase um manual de como ser uma diva do pop. Posso ver muitas das atuais estrelas da música assistindo isso no cinema e pensando: um dia serei assim. Li dias atrás que Katy Perry, que também lançou um documentário tempos atrás, quis que o filme tivesse a cara de Na cama com Madonna

Após assisti-lo, é fácil entender por que ninguém conseguiu substituir a velha no trono de Rainha do Pop. Ela abriu portas, e continua derrubando fornos e portas e barreiras. Não adianta dizer que Madonna está velha - 56 anos lá é velha, gente? Ela não vai se aposentar, não! E alguém, por acaso, critica Paul McCartney por continuar fazendo a mesma coisa aos 70 e tantos? Nosso velho amigo sexismo dando as caras! Adoramos (só que não).

Enfim, não adianta criticar e querer ensinar o padre a rezar a missa. O trono é dela. Basta ver o filme pra saber o porquê.

Bitch, she's Madonna!

Publicado por Camila Pereira.

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