Na época do pós-guerra, aos poucos a Europa se reerguia. A Itália, particularmente, começa a ter sinais de progresso. No entanto, uma parte da população sofre com a nova era que surge: são os idosos. Desrespeitados, relegados ao segundo plano, completamente esquecidos. E essa é a imagem que Vittorio De Sica nos dá em Umberto D., filme que dedicou ao seu pai. Com poucos personagens, sendo a cidade um deles - como um vilão que aos poucos cerca sua vítima - Umberto D. é o retrato de um período, com um tema que está longe de ser datado.
Não só contente em expor a situação, De Sica vai mais além: ele sabe como ninguém destruir o espectador emocionalmente. E ele consegue, por fim, um dos mais belos filmes já feitos.
Umberto (Carlo Battisti) é um aposentado, ex-funcionário público, que vive em uma pensão, tendo por companhia constante seu cachorro Flik. A situação é complicada, pois o que o idoso recebe mal chega para pagar o aluguel de seu quarto, e ele, aos poucos, vai se desfazendo de seus pertences para garantir sua sobrevivência, assim como a de seu fiel amigo. As coisas só pioram quando a dona da pensão, ansiosa para livrar-se de Umberto, dá um prazo para que ele pague o que deve. Sem saída, ele tenta viver com dignidade, perambulando pelas ruas, tentando achar uma solução. Seu único consolo é Filk, e a criada da dona da pensão, Maria (Maria Pia Casilio), que acaba se tornando uma inesperada amiga.
Conforme o tempo passa, o filme se torna mais melancólico, e assim como Umberto, o olhar do espectador também é de desilusão. Impossível não sentir todos os dilemas vividos pelo personagem. Quando ele se sente tentado a pedir esmolas, resta alguma esperança, mas logo percebemos que isso simplesmente não faz parte do caráter de Umberto; como já citei antes, ele tenta manter a dignidade, que o salário miserável do governo tenta, a todo custo, tirar dele. Além disso, fica claro no filme o descaso com os idosos não só por parte do governo, como pela população em geral. É quase como se eles fossem invisíveis. Em dado momento, é insinuado que a dona da pensão onde Umberto vive seria sua neta, o que nos leva a concluir que até mesmo a família queria se livrar desse incômodo que se tornavam os mais velhos.
Conforme o tempo passa, o filme se torna mais melancólico, e assim como Umberto, o olhar do espectador também é de desilusão. Impossível não sentir todos os dilemas vividos pelo personagem. Quando ele se sente tentado a pedir esmolas, resta alguma esperança, mas logo percebemos que isso simplesmente não faz parte do caráter de Umberto; como já citei antes, ele tenta manter a dignidade, que o salário miserável do governo tenta, a todo custo, tirar dele. Além disso, fica claro no filme o descaso com os idosos não só por parte do governo, como pela população em geral. É quase como se eles fossem invisíveis. Em dado momento, é insinuado que a dona da pensão onde Umberto vive seria sua neta, o que nos leva a concluir que até mesmo a família queria se livrar desse incômodo que se tornavam os mais velhos.
Por fim, o desespero toma conta de Umberto, e ele não vê uma saída razoável para sua situação... a não ser o inevitável. No entanto, ele sempre poderá contar com seu amigo Filk. E temos um final agridoce, melancólico, mas jamais melodramático. Essa é uma das características que gosto do cinema de De Sica. Aqui ele apresenta a realidade de uma forma muito mais desesperançosa do que Ladrões de bicicleta, por exemplo. Ele nos mostra os fatos; cabe a nos julgá-los e compreender o que se passa no interior de Umberto. Esse personagem, aliás, me lembra em alguns momentos os personagens dos filmes de Chaplin, com toda a simplicidade que comove e desperta a simpatia do espectador.
Maria: Umberto encontra uma inesperada amiga na garota. |
Assim como em Ladrões de bicicleta, de 1948, De Sica utiliza aqui atores amadores, outro recurso dessa fase realista de sua carreira como diretor. Com isso, ele pretende apresentar seus personagens com maior veracidade e autenticidade. E dá certo, pois já considero esse como sendo seu melhor filme. E aparentemente, De Sica concorda comigo:
"É meu filme favorito, pois nele me comprometi totalmente com a retratação de personagens e acontecimentos verdadeiros. Procurei, com grande humildade, adotar o estilo verdadeiro, poético e límpido de Robert Flaherty. Umberto é um velho e tem os defeitos do idoso. Teria sido mais fácil mostrá-lo sentimental e patético para atrair a simpatia do público. Mas não o fizemos. Sua vida passada não é revelada. O que importa é que com 70 anos, um solitário próximo do fim da vida que faz dele um velho quase insuportável. O filme procura colocar na tela o drama da inabilidade do homem de se comunicar com seus iguais. O que importa é a solidão do velho. Trata também sobre o egoísmo de todos nós. Há um pouco de cada um de nós no personagem da dona da pensão. Umberto D. é um homem como todos nós."
Ah, ele com certeza é como todos nós. Você vai confirmar isso quando assistir esse filme repleto de cenas icônicas, emocionantes e, algumas vezes, até engraçadas. Não quis falar muito dessas cenas em particular, pois acredito que é necessário ver esse filme assim, sem saber muito o que vem pela frente.
Abaixo, há links disponíveis para que você possa assistir essa obra maravilhosa do cinema italiano:
Link no Youtube (legendado)
Torrent + Legenda
Assista, e saiba porque Vittorio De Sica é um gênio.
Publicado por Camila Pereira.
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