Entramos em 2015 arrombando as portas e prontos para derrubar todos os forninhos!
Continuamos com a série dos 100 looks memoráveis do cinema, com nosso convidado Lucas Kovski comentando mais um modelo. E, uau, nunca houve uma mulher como Gilda. E nem um vestido como o dela.
Put the blame on Jean Louis (1907-1997)
Hoje trago para vocês o vestido que consolidou o modelo de Femme Fatale do cinema ,sim , estou falando do famoso conjunto vestido tomara-que-caia e luvas pretas usadas por Rita Hayworth em Gilda (1946) colocado pelo The Independent como um dos 10 maiores trunfos fashions do cinema.
O figurinista Jean Louis que, dentre outros trabalhos, desenhou o famoso vestido usado por Marilyn Monroe na cerimônia de aniversário de JFK (Happy Birthday, Mr President!), trabalhou com Rita em mais de 8 filmes a partir de 1945. Um de seus grandes trunfos é o uso de cortes retos e cores neutras para disfarçar qualquer tipo de coisa que pudesse vir a atrapalhar a imagem do figurino ou da atriz na tela - por exemplo, em 1945, Jean conseguiu ajudar Rita a esconder o corpo de grávida (ela já estava entre o terceiro e o quarto mês de gestação) no filme O coração de uma cidade (1945).
Como inspiração para o vestido, o estilista se inspirou na sensualidade de alta classe do quadro Portrait of Madame X (1884); esse quadro feito por John Singer Sargent (1856-1925) retrata a sensualidade dos contrastes entre a pele branca da socialite Virginie Amélie Avegno Gautreau, e o tom intenso de preto, contrastando ainda com os ombros expostos e a parte de baixo rebuscada.
No vestido , Jean Louis utilizou seu habitual decote com corte reto (dando pequenos contornos para destacar cada seio). O uso do cetim preto foi outra grande jogada para contrastar com a pele da atriz e para dar continuidade ao brilho das famosas madeixas ruivas, marca registrada de Rita. A arte de baixo apresenta um corte que auxilia na demonstração das curvas da atriz. Para utilizar o vestido foi necessário que Rita colocasse um espartilho, pois tinha dado à luz a sua filha Rebecca Welles (do casamento com Orson Welles). Lucille S. Watson sobrinha de Jean Louis e costureira da Columbia ajudou nos moldes para todos o espartilho, e na conclusão final para o vestido incluindo os detalhes como o laço e falso cinto que decoram a cintura; em pouco tempo ela seria costureira pessoal de Dorothy Lamour. O vestido ainda apresenta a famosa fenda que dá um toque de sensualidade ainda maior ao quebrar todo o look montado pelo longo preto dando um toque mais casual ao vestido.
Agora a parte mais famosa do figurino: as longas luvas negras. Feitas sob medida para Rita, do mesmo material que o vestido, elas ajudam na composição fetichista do look; ao ficarem um pouco mais acima do cotovelos as luvas deixam a curiosidade do espectador cada vez mais aguçada. Jean Louis sabia disso, e junto com Jack Cole o coreógrafo do filme, criou o strip-tease das luvas, o que sugere bem mais do que se ela tivesse tirado a roupa toda.
A gargantilha usada por Rita ajuda o look a não ficar muito carregado; joias sob as luvas também seriam fatais para a fluidez do conjunto.
Esse figurino foi tão inspirador para tantas gerações de femme fatales do cinema que é tido como um dos maiores looks da história da arte. É notável, por exemplo, a óbvia referência disso na femme fatale mais caricata do mundo, Jessica Rabitt, que tem influências de outras grandes damas do Noir como Lauren Bacall e Veronica Lake, na utilização de uma roupa quase idêntica a de Rita em Gilda.
Talvez seja por conta desse look que as luvas viraram de uma vez por todas sinônimo de sensualidade.
Em abril de 2009, o vestido seria vendido na casa de leilões de Forrest J. Ackerman . Na descrição do lote foi especificado que o vestido ainda tinha "propriedade da Columbia Pictures" na etiqueta e "Rita Hayworth" costurado dentro. O preço inicial foi estimado entre US$ 30.000 e US$ 50.000, mas o lote foi retirado antes que o leilão começasse. Mais tarde, em setembro de 2009, o vestido apareceu misteriosamente em um leilão em eBay com um preço inicial de US$ 30.000.
Texto de Lucas Kovski - Publicado por Camila Pereira
Nenhum comentário:
Postar um comentário