Segundo longa dirigido por David Lynch, lançado 3 anos após sua estréia em Eraserhead (1977), foi o primeiro grande filme do diretor. Mel Brooks foi um dos produtores executivos do projeto e como havia gostado do trabalho de Lynch em Eraserhead, se tornou o responsável por sua contratação. Baseado na história do inglês Joseph Merrick, que viveu entre 1862 e 1890 e era portador de uma doença que provocou terríveis deformidades em 90% do seu corpo. A doença só viria a ser diagnosticada oficialmente em 1996 com o nome "Síndrome de Proteus", após exames no esqueleto de Merrick que tinha um caso grave de neurofibromatose múltipla.
"'Você não pode julgar um livro pela capa' é uma lição que todos, pelo menos na superfície, dizem entender.O filme se trata de um caso extremo, onde uma alma tão bonita está presa a um corpo horrível." explicou David Lynch, entre outros detalhes sobre a construção de O Homem Elefante: "Tinha que ser em preto e branco, é algo mágico e te transporta instantâneamente da realidade e também de volta ao tempo. Muitas fotografias do passado são em preto e branco. Você sente mais, é apropriado e tinha que ser dessa forma."
Na Londres vitoriana, John Merrick (John Hurt) é exibido em um Circo de aberrações como um monstro. Sr. Bytes ganha dinheiro anunciando sua "propriedade" que é chamada de O Homem Elefante, devido a terrível deformidade do seu corpo. Merrick foi encontrado por Bytes, que só lhe alimenta com batatas e o espanca frequentemente. No começo da trama, o jovem Dr. Frederick Treves (Anthony Hopkins) descobre O Homem Elefante e pede autorização para examiná-lo, "há uma cena em que Tony Hopkins, vai pela primeira vez a esse lugar e vê O Homem Elefante, e a camêra vai se aproximando, se aproximando do seu rosto e no momento em que ela para, uma lágrima caiu de seu rosto. Nós só precisamos fazer uma tomada, foi perfeito!" descreve David Lynch sobre uma das primeiras cenas do Dr. Treves, interpretado por Anthony Hopkins.
John Merrick é levado para o hospital, onde é examinado por Dr. Treves e seus colegas. Considerado débil mental inicialmente por causa da dificuldade com a fala, é logo descoberto que seu problema é apenas físico, ele possui problemas com certos sons devido a deformidade constritiva, mas pode falar.
Merrick começa a se adaptar à nova realidade no hospital, recebendo muita atenção dos médicos que estudam minunciosamente o caso. Seu aspecto físico provoca diferentes reações entre os residentes e até no público em geral que começa a acompanhar a saga do Homem Elefante através dos jornais. O alvoroço é tamanho que chega a despertar o interesse de figuras respeitadas na Inglaterra, como a Sra. Kendal (Anne Bancroft), uma atriz de meia-idade que vai até o hospital conhecer o jovem paciente. Infelizmente, a notícia sobre o caso também chega até os ouvidos de pessoas nem tão bem intencionadas.
Um dos momentos comoventes é quando o protagonista, que carrega a "maldição" de uma fisionomia espantosa se surpreende e retribui de forma tão sensível o carinho e amizade que nunca teve antes. David Lynch comentou sobre os bastidores, em especial sobre o ator John Hurt durante sua transformação em O Homem Elefante: "Eu gosto de John Hurt, ele se comprometeu tanto com o personagem que se restringia a não cometer erros. Custava cerca de seis horas para que estivesse preparado, e durante essas seis horas ele não se sentia como um ator normalmente se sentiria mudando a aparência, ele sentia um pouco mais que isso. Ele disse que literalmente se tornou essa pessoa. Ele nunca fez um movimento em falso em sua performance. Era impressionantemente bom." Merrick viveu em um tempo e sociedade que não o tratava como um ser humano, o olhar fixo do personagem traz a certeza de que ele precisa ser tratado com dignidade.
A saga continua até que uma enfermeira sugere que o hospital está se tornando uma espécie de circo, como o que John Merrick costumava ser exibido. As pessoas próximas de John ainda tendém a se beneficiar ou até mesmo sentir que estão fazendo "caridade". O filme conta também com uma trilha assombrosa, que se tornaria uma característica de Lynch em outros projetos. As imagens de uma manada de elefantes correndo e pisoteando uma mulher grávida na introdução do filme impressionam e tornam a experiência de assistí-lo como uma daquelas difíceis de esquecer.
"Em um filme de terror, você evita propositalmente que as pessoas vejam o monstro, até um ponto onde você constrói para quando elas vejam, se torne algo aterrorizante. E tive que fazer um pouco disso, para transmitir a idéia de como deve ter sido para ele. Toda a história se baseia no pequeno livro do Dr. Treves, ele ajuda tanto o homem Elefante e ainda questiona suas próprias crenças. É um filme muito importante para mim, me tirou da obscuridão surreal para o mainstream. Obteve oito indicações ao Oscar, não levou nenhuma. Ele afetou as pessoas tão profundamente, estou realmente orgulhoso do que eu e meus colegas fizemos juntos." - David Lynch
Publicado por: Guilherme Toffoli
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