Daqui algumas horas, talvez quando você já
estiver lendo este post, a lista de indicados do Oscar 2014 já vai ter sido
divulgada. Por enquanto, podemos apenas fazer previsões. Meu chute para o Oscar
deste ano se chama Álbum de Família.
Não sei se vocês têm a mesma impressão que eu,
mas parece que esperei esse filme sair por décadas. Estive acompanhando a
publicidade em torno dele desde que anunciaram que Meryl Streep e Julia Roberts
iriam atuar juntas. Quando finalmente pude assisti-lo, percebi que o filme
carrega em si muito mais que o nome dessas duas atrizes; Álbum de família é uma ode ao tema mais velho que sua avó: famílias
problemáticas.
Famílias problemáticas. Da série de televisão Dallas a Álbum de família, esse é um tema que nos fascina, nos intriga. Uma
família problemática, que interessante. E por quê? Acredito eu que por uma
questão de identificação. Todas as famílias têm problemas, ricas ou pobres.
Portanto apostar em um tema assim em um filme é quase como ter 50% do caminho
andado para a aprovação do público.
Como uma boa família problemática que se preze
deve existir um membro que é o centro da ação. Estamos falando de Beverly
Weston (Sam Shepard), marido da matriarca Violet (Meryl Streep) que um dia, sem
motivo aparente, desaparece. Mas antes que Bev desapareça, já temos noção de
como é essa família assim que Violet aparece em cena pela primeira vez. Meryl
Streep entra na sala, com um copo na mão, trôpega e bêbada. Falando muitos
palavrões, o cabelo curto, quase careca. Uma imagem que já nos mostra como é
essa família. Como ele não voltasse, seus filhos, Barbara (Julia Roberts), Karen
(Juliette Lewis) aparecem para tentarem localizar o pai, ao lado de Ivy
(Julianne Nicholson), a filha que vive na casa dos pais. Além disso, a irmã de
Violet, Mattie Fae (Margo Martindale) e sua família aparecem para ajudar. Mas nós
sabemos que algo está errado, pois Beverly bebia demais, esse desaparecimento não
dará em coisa boa. Até que o esperado acontece: ele é encontrado morto.
A morte de Bev desperta o melhor e o pior nessa
família. A trama de Álbum de família é
por vezes quase uma novela mexicana. E quem disse que as novelas mexicanas são
ruins? Ora, essa aqui é muito boa. O que significa que temos muitos segredos,
muita cusparada de insultos e uma bela briga como todo roteiro de “família
mexicanizada” pede. No entanto, o que diferencia esse filme dos novelões
mexicanos é a presença de um texto bem escrito. Sim, é um drama mexicano, mas
sem a mocinha colocando a mão no rosto antes de desmaiar. É um drama mexicano ao
som de Eric Clapton. O humor negro é um elemento que foi muito bem utilizado em
Álbum de família. Quer dizer, eu diria
que esse “humor negro” é uma válvula de escape quando o drama começa a ficar
pesado demais. Mas mais do que isso, a presença desse humor negro é uma maneira
de humanizar a trama. Quando Violet dança ao som de Eric Clapton, logo após a
morte do marido, você consegue se identificar. A morte se manifesta de N
maneiras diferentes, a música e a dança estão incluídas. E Violet lida com a
morte de Bev (ou seria suicídio? Não sabemos) dançando e se enchendo de pílulas.
Os estereótipos familiares são bem definidos no
filme. Temos a filha que ficou cuidando dos pais, Ivy; a filha que saiu de casa
e decepcionou os pais; a filha que vive atrás de um grande amor. Contudo, o
papel familiar mais bem definido é o da matriarca, Violet. Ela é aquela pessoa
da família que fala o que pensa, que não é bem tolerada, que fala verdades, mas
não quer ouvi-las. Talvez seja até previsível que uma mulher tão forte tivesse
que ter um fraco por pílulas ou bebida para aumentar a carga dramática. Só que
estamos falando de Meryl Streep, que traz a essa personagem o timing perfeito. É minha aposta para o
Oscar de melhor atriz. É difícil acreditar que ela entra na sala dizendo palavrões,
que dança ao som do vinil do Clapton e que tenha esse sotaque sulista que a
gente tanto ama. É incrível como a personagem vai ao riso ao drama em questão
de segundos. É incrível ver Meryl Streep tão amarga em tela. Meryl Streep,
Bette Davis já sabia que ela seria uma boa atriz lá nos anos 80, quando
endereçou uma carta a ela dizendo que ela era a única atriz que poderia
substitui-la um dia.
A relação entre Barbara e Violet é talvez a
mais desenvolvida no filme. E é uma pena, mas necessário, uma vez que muito
conteúdo da peça que deu origem ao filme, August
Osage County, teve de ser cortado para caber em duas horas de filme.
Voltando a Barbara e Violet. É difícil falar dela sem pensar em minha própria
vida pessoal. Talvez isso seja o mais fascinante em relação aos filmes: o
quanto enxergamos nossa vida neles. Lembrei bastante da relação entre minha mãe
e eu. Quantos rancores essa mãe e filha não guardam e como, de repente, isso
vem à tona da pior maneira possível. Como essa relação mãe-filha é difícil, mas
no fim está tudo bem, porque você a ama independente das brigas. O final do
filme mostra exatamente isso. Barbara e Violet protagonizam uma cena
sensacional de briga estilo Mamãezinha
Querida, com direito a família toda separando. É nesse momento que Barbara
percebe que está se tornando igual a sua mãe: uma mulher violenta e amarga. É tão
assustador quando você pensa em suas atitudes e conclui que está começando a
agir igual sua mãe. Eu, por exemplo, me tornei uma compulsiva por limpeza (eu e
Joan Crawford nos daríamos bem) e isso tem bastante influência de minha mãe. Não
podemos negar como nos parecemos com nossos pais. Às vezes isso é bom; outras
vezes não. Álbum de família mostra
que não importa o quanto você corra das suas origens; elas acabam
transparecendo de uma maneira ou outra.
E é claro que não poderíamos não mencionar a
atuação monstruosa do elenco desse filme. Julia Roberts está magnífica no papel
de Barbara e acredito que tem boas chances no Oscar. Ela consegue trazer a
carga dramática necessária ao personagem, fazer com que acreditemos em seu
sofrimento, na raiva que nutre por sua mãe. Aliás, se existisse um Oscar para “melhor
elenco”, eu apostaria no elenco de Álbum.
Evan McGregor, apesar de aparecer pouco, está quase irreconhecível no papel do
marido de Julia Roberts. E lembra da menininha de Miss Sunshine? Maravilhosa no papel da filha adolescente de
Roberts. Me sinto velha ao pensar que essa garota já tem 14 anos.
Talvez não seja um filme para concorrer à
categoria de “Melhor filme” no Oscar, mas certamente não é um filme que não
desperte nada. Álbum desperta todos
os sentimentos possíveis, da raiva ao riso. E quando Meryl Streep aparece
doente, você tem vontade de pegá-la no colo e dizer que tudo ficará bem. Muito
barulho por nada? Que nada! Álbum de família vale o ingresso no cinema. E
algumas indicações ao Oscar também.
Todos orando pela indicação de Meryl Streep ao Oscar!
Publicado por Jessica Bandeira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário