Em 1959 Rock estava no auge da popularidade, depois de estrelar romances do Douglas Sirk ou o inesquecível Assim Caminha a Humanidade. Ele sempre foi um admirador de Doris, mas quando leu o roteiro de Confidências à Meia-noite suspeitou que "uma comédia seria muito mais difícil de representar do que um drama". Doris Day e seu marido Marty Melcher tiveram que convencê-lo. Os três filmes que realizaram juntos fizeram sucesso, caçoavam das convenções sociais e eram muito sugestivos! Doris e Rock eram opostos, ele era bronzeado e gigantesco e ela loira e vulnerável, as revistas de cinema publicavam exaustivamente sobre a química e a descarga elétrica que existia entre os dois na tela grande. Consegue sentir as faíscas?
Doris já era uma estrela muito antes de Rock ingressar em Hollywood. Em 1943, Roy Fitzgerald (seu nome antes de tornar-se Rock Hudson) entrou para a Marinha e seguiu para as Filipinas, quando seu barco partiu de São Francisco, os alto-falantes reproduziram "Sentimental Journey", cantada por Doris Day. Os rapazes iam para a guerra e foi como se Doris cantasse sobre a viagem que estavam prestes a fazer. "Ela fez o navio inteiro chorar, inclusive eu" revelou Rock, anos mais tarde. Na época Roy tinha apenas 18 anos e jamais poderia acreditar que 13 anos depois estaria no cinema com Doris Day, numa das comédias de maior sucesso da época. O que aconteceu nos anos seguintes já é história. Confidências à Meia-Noite caiu nas graças do público e arrecadou mais de US$ 7,5 milhões, só nos Estados Unidos. Doris foi indicada para um prêmio da Academia e disse "Temos que fazer outro filme imediatamente."
Lover Come Back (Volta meu Amor, no Brasil) foi lançado em 1961 e seguia quase que exatamente a mesma fórmula do primeiro filme, responsável pelo sucesso. Dessa vez, Rock é Jerry Webster e Doris interpreta Carol Templeton, ambos são publicitários e disputam a assinatura de um importante cliente. Carol começa a se irritar quando descobre que Jerry usa garotas e bebidas como atrativo para conseguir a assinatura dos clientes para sua agência. Peter Ramsey (Tony Randall) é o desastrado chefe de Jerry que devido a um descuido, começa a vincular o comercial de um produto que não existe, chamado "VIP". O comercial não deveria ter ido ao ar, mas tornou-se um sucesso de público e agora os dois precisam inventar o tal produto. Para isso, procuram um cientista incorruptível e experiente chamado Linus Tyler.
Carol pretende denunciar o publicitário rival para o conselho de ética, mas graças a uma confusão começa a sair com Jerry, acreditando ser Dr. Linus Tyler. Jerry entra no jogo e decide não revelar sua identidade. É a partir daí que eles passam a se conhecer, se envolvendo em situações cada vez mais hilárias.
Carol pretende denunciar o publicitário rival para o conselho de ética, mas graças a uma confusão começa a sair com Jerry, acreditando ser Dr. Linus Tyler. Jerry entra no jogo e decide não revelar sua identidade. É a partir daí que eles passam a se conhecer, se envolvendo em situações cada vez mais hilárias.
Em sua auto-biografia, Rock conta que ao ler o script final de Confidências à Meia-noite ficou impressionado com o humor e a inteligência, mas achou o material sofisticado demais e no princípio, não queria fazer o filme. Fala também o quanto Doris Day o ajudou a superar suas inseguranças. "Doris e eu nos tornamos grandes amigos. Ela é um dínamo - uma mulher muito forte. E que comediante! Nosso único problema era não dar risada. Doris e eu não podíamos nos olhar... Você conhece aquela doce agonia do riso quando não se pode rir? Era esse o problema que nos preocupava o tempo todo. O segundo filme que fizemos juntos chamou-se Volta meu amor, e aí a situação piorou. Acho que tiveram que filmar mais duas semanas por causa das nossas gargalhadas. Não podíamos sequer olhar um para a cara do outro. Eu me fixava na testa de Doris, no seu nariz. E vivíamos fazendo coisas terríveis um para o outro. De costas para a câmera, fazíamos caretas... Isso talvez seja um comportamento um pouco juvenil, mas é bom não esquecer que estávamos filmando uma comédia e o resultado na tela, eu acho, é que tornou esses filmes tão bem-sucedidos. O brilho em nossos olhos aparece na tela."
Rock comenta que nos bastidores, quando estava pronto pra gravar, deitado na areia de calção de banho, um membro da equipe gritou: "-Você está com o saco de fora!" Sem conferir se era verdade, os dois tiveram uma crise de riso tão incontrolável, que o diretor precisou gritar "Acabou a brincadeira!" e só então conseguiram filmar.
Não Me Mandem Flores foi lançado em 1963 e contava com uma trama diferente das comédias anteriores. Dessa vez Rock não era um playboy tentando tapear Doris. Na trama, George Kimball (Rock Hudson) é casado com Judy (Doris Day), ele é um hipocondríaco que depois de uma consulta médica, confunde o resultado dos exames e acredita estar em estado terminal, tendo apenas duas semanas de vida. George pensa em ajudar a esposa, arruma um seguro de vida e pensa até em lhe encontrar um novo marido!
Quando George finalmente conta a verdade, Judy descobre que ele não está morrendo e acredita que o marido tem uma amante. É então, que ela o coloca para fora de casa e começa um dos momentos mais hilários, quando Judy joga todos seus remédios pela janela e George responde "Opa! Meu anti-gripal". Então, o marido rejeitado e que acredita estar "moribundo" vai passar a noite na casa de Arnold (Tony Randall) e desabafa sobre os acontecidos. Vale ressaltar que Tony Randall está especialmente carismático nesse filme, sua participação nas comédias da Doris e Rock é digna de aplausos, por que o cara precisa ser muito bom para contribuir num filme com um time desses, seus personagens ainda que secundários trouxeram elementos importantes para cada um dos filmes.
Esse foi o último filme dos 3 filmes protagonizados por Doris Day, Rock Hudson e Tony Randall. Send Me No Flowers não teve o mesmo sucesso de público dos filmes anteriores. O diretor Norman Jewison abandonou a antiga fórmula e fez com que os protagonistas fossem um casal, desde o início da trama. Além disso, o filme não tem a mesma malícia que os anteriores e foi um tanto quanto subestimado, injustamente na minha opinião! Pillow Talk e Lover Come Back são filmes memoráveis, mas não significa que devessem ser feitos de novo. Graças à Jewison a trilogia das comédias de Hudson e Day termina de forma imprevisível, numa trama diferente e muito bem escrita!
"Rock pareceu-me tímido e delicado. Logo me dei conta da combinação química das nossas personalidades, nós ficávamos bem juntos, formávamos um casal ideal." Rock disse que não tinha certeza se saberia ser engraçado. "Creio que era mais o medo do desconhecido, mas todos achamos que ele seria perfeito e tentamos amenizar sua insegurança. É mais difícil fazer uma comédia por que não é real. O drama é verdadeiro, é a vida, e a gente reage como na vida e não precisa pensar em ritmo ou coisas parecidas. Agora, numa comédia o ritmo é tudo. Se você tenta ser engraçado, não vai conseguir. Temos que representar a comédia como se fosse real. Qualquer situação engraçada, a gente tem que representar como se fosse verídica, autêntica. Por outro lado, a platéia exige mais da comédia. As pessoas se recostam na poltrona e dizem: 'Me faça rir. Agora quero rir mais um pouco. E agora me faça rir mais ainda', e se o público não estiver rindo às gargalhadas quando o filme acabar, vai sair dizendo que o filme não foi grande coisa. Já no drama derramam-se algumas lágrimas e está tudo bem. É muito mais fácil."
Eles gostariam ainda de fazer mais filmes juntos. A Time Magazine chegou a escrever que "ambos pareciam dois lustrosos Cadillacs, estacionados numa posição sugestiva". Eles procuraram diversos roteiros, ao longo dos próximos 20 anos, chegaram a conversar com Delbert Mann sobre a produção de um filme com a mesma conotação dos primeiros, mas achavam que se iriam gravar outro filme, deveria ser algo muito especial. De certa forma, por mais sucesso que tenham conquistado em outras produções, Confidências à Meia-Noite, Volta meu Amor e Não me Mandem Flores remete aos melhores anos de suas carreiras. Doris e Rock estarão sempre associados por causa das comédias e da química brilhante, que resultou numa amizade para toda a vida.
Fazendo mágica nos bastidores de Lover Come Back, em 1961.
Publicado por: Guilherme Toffoli
Amei o post, Gui! Eu amo esses dois, e acredito que o Tony Randall fazia mesmo a diferença junto deles - se não fosse assim, ele não teria feito os três filmes com Doris e Rock, né? O único que não vi ainda foi "Lover come back", mas fiquei ansiosa depois da leitura :) A química entre esses dois lindos faz tudo valer a pena. Ameeeei! (Camila)
ResponderExcluirParabéns pelo post, Guilherme !
ResponderExcluirSeus escritos me lembraram de assistir "Lover Come Back" urgentemente.
Muito legal! :D
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