Existe duas coisas que eu deveria evitar e não consigo: os filmes existenciais e os livros de Marguerite Duras. Esses últimos me despertam uma tristeza tão grande que é muito difícil terminá-los. Quando estava lendo O amante, lembro de ter chegado a uma parte em que chorei feito um bebê. Era como se ela escrevesse para mim. Eu passava por uma época difícil e aquele livro era extremamente deprimente, um deprimente tão belo que era impossível largar. A vida é assim: um deprimente belo.
Mas o que Marguerite Duras tem a ver com A outra, filme de Woody Allen de 1988?
Tudo, tudo.
Hoje terminei Yann Andréa Steiner (nossa colaboradora de Cine Espresso, Patrícia, vai entender bem meus sentimentos), um romance sobre o romance da autora com o então jovem Yann, muitos anos mais jovem que ela. Ontem assisti a A outra, e livro e filme me despertaram uma melancolia/tristeza como eu não sentia há muito tempo. O vazio existencial nunca pareceu tão claro ao terminar o livro e o filme.
A outra é um soco bem dado no estômago. Trata-se de um Woody Allen sério, com diálogos cortantes, verdadeiros, tristes. Algo que eu já havia vivenciado com Blue Jasmine, mas numa dimensão muito piorada aqui. Isso porque durante a 1h20 de filme tive a sensação de que a personagem de Gena Rowlands era eu. Que aquele filme falava para mim. Não importava que a personagem tinha 50 anos, eu sentia na carne o peso daqueles dramas. Eu, eu, com apenas 23 anos.