Lucille Ball, ao lado de Betty White, deve ser a comediante de televisão mais famosa dos Estados Unidos. Não é a toa, I love Lucy foi o primeiro sitcom ever da televisão, definindo todo esse gênero de programa. Mesmo após seu fim, em 1956, Lucy e seus cabelos ruivos continuaram famosos, e a moça trabalhou até o ano de sua morte, em 1989.
A ruiva de Rhode
Island tem méritos não por apenas ter criado o primeiro sitcom com seu marido, Desi Arnaz, mas por ser a primeira mulher do
ramo. E vocês sabem como nos
queridos anos 50, a coisa não era fácil se você resolvia não ser dona de casa.
Ser atriz nessa época era um calvário, uma vez que a profissão era relacionada
à mulheres indecentes. Somente por essa razão, Ball é uma heroína para mim.
Vocês imaginem o que era fazer parte da produção de um programa/sociedade/mundo
dominado pelos homens. É difícil imaginar, mas Lucille com seu temperamento
classificado por muitos como difícil conseguiu se firmar nesse métier, o que acho que deixou muitos com
medo.
Nenhum seriado é
tão anos 50 quanto I Love Lucy. Mas,
Jessica, como não seria se ele é ambientado nos anos 50, alô?! Se você gosta de
uma boa aula de história prática, sem livros e decoreba, recomendo que assista
a esse seriado. Ele é uma aula muito bem dada de como funcionavam as coisas
naquela época. Por vezes o humor de I
Love Lucy está relacionado ao sexismo, o que torna a série (pelo menos para
mim) difícil de digerir às vezes.
Vamos aos fatos primeiro: o sitcom foi o primeiro no ramo, exibido pela CBS no final de 1951.
A história do
programa é simples: cantor de boate, Ricky Ricardo (Desi), casado com a
americana ruiva (Lucille Ball). Eles moram em um apartamento onde há um
senhorio muito peculiar, formado por Ethel (Vivian Vance) e Fred Mertz (William
Frawley). As confusões da série acontecem quase sempre porque Lucy sonha em
pertencer ao show business, mas todas suas tentativas são censuradas pelo
marido. O que não a impede de continuar tentando e arranjando confusão. Aqui já
temos algo bem 1950: o marido quer que a esposa fique em casa. Além de frustrar
todas as tentativas de Lucy, Ricky ainda faz piada com suas habilidades,
consideradas inferiores, que às vezes dão a impressão de ser assim pelo fato de
ela ser mulher. Mas o público de 1950
não ligava, achava engraçado. O personagem de Ball era a reprodução de várias
donas de casa por aí.
Para escrever
esse post, recomecei a assistir o DVD da primeira temporada de I love Lucy. Percebi algo nos famosos
choros de Lucy que nunca tinha me passado pela cabeça, ou seja, como ela é uma
forma de reforçar estereótipos femininos. Quem assiste sabe que ela, quando não
consegue o que quer, começa a berrar, berrar e berrar. A voz de Lucille
contribui para o “humor” da cena, uma vez que ela é esganiçada, fina e um pouco
irritante. Neste episódio que revi, Lucy começa a berrar até Ricky dizer: Tudo
bem, Lucy, você pode cantar na festa beneficente! Esse comportamento quase
infantil reforça que nós, mulheres, somos histéricas, que só conseguimos as coisas
na base do grito. E nada mais 1950 do que fazer piada com isso. Problema é
quando a NET faz uma piada com isso em 2013.
O seriado
praticamente criou o gênero sitcom.
Ele era gravado ao vivo e embora muitos duvidem as risadas engarrafas são de
verdade! Como é característico desse gênero, existem as piadas com fatos
recentes. “Sua peça faria Laurence Olivier embarcar no primeiro barco para os
EUA” diz Ricky em um dos melhores episódios da 1ª temporada, Lucy escreve uma peça de teatro. Além
disso, ela mostra como os americanos ainda estavam bastante muquiranas (palavra
que minha vó utiliza detected) depois do pós-guerra, pois Lucy e Ricardo vivem
em estado de economia. Quando compram uma máquina de lavar louça nova é a
glória para eles.
Mas parece que só
reclamo da posição das mulheres neste post. Mentira! Muitas coisas me agradam
em I love Lucy. Uma delas é o
entrosamento do elenco. É o tipo de série em que todos os personagens são bons
e funcionam bem. Ethel e Lucy são as amigas mais legais e é fácil identificar
você e sua melhor amiga. Ethel já fez de tudo pela amiga: vestiu-se de cavalo,
de mexicana e tudo mais. Acho que o conceito de sitcom onde existem personagens com uma amizade forte (Friends, The Golden Girls...) começa com Lucy.
É claro que não
poderíamos deixar de falar no entrosamento entre o casal protagonista. O fato
de serem casados na vida real torna a série mais interessante ainda de ver.
Vemos demonstrações de amor, beijinhos pra cá e pra lá, e você sabe que eles não
estão atuando. Lucille e Desi se conheceram no set de um filme que ela estava
gravando para a MGM. Se não me engano, Ball estava com uma roupa de dançarina,
muito bonita, com as pernas de fora. Ao passar por Desi, o homem ficou
apaixonadíssimo. Apesar da diferença de idade, eles se casaram. Eles queriam
muito ter filhos, mas foi difícil; Lucille não conseguia engravidar. Por estar
chegando aos 40 era preocupante, talvez ela não pudesse ter mais filhos.
Contudo, no começo da 2ª temporada, a boa notícia: ela engravidou! Já que
Lucille engravidou, a equipe do programa decidiu fazer a personagem engravidar
também. A 2ª temporada inteira é dedicada a essa gravidez, e nas seguintes, o
primeiro filho deles, Desi Arnaz Jr. Mas como nem tudo são rosas, o
relacionamento entre eles acabou terminando. Reza a lenda que foi por causa das
traições de Desi. Contudo, alguns teóricos da zuera afirmam que eles nunca
deixaram de se gostar. Quando eles gravaram uma das últimas cenas de I love Lucy, os dois ficaram um longo
tempo se abraçando. Aquele não era só um adeus a seus personagens; era o adeus
dos melhores anos de suas vidas. Para os
fãs o que ficou foi um dos melhores seriados dos anos 50. Que em 2013 nos
parece quase atemporal.
Para os
curiosos, deixo um top 5 dos melhores momentos da série:
1)
Lucy dublando Mamãe eu quero:
sentindo-se menosprezada pelo marido, Lucy decide transformar em uma cubana de
verdade. Para isso, ela decora a casa com motivos latinos e faz com que Ethel
se vista com uma roupa que mais parece mexicana do que cubana. O humor da cena
fica por conta do disco que começa a pular, fazendo com que Lucy tenha que
improvisar e mexer a boca muito rápido, e o fato de Carmen Miranda representar Cuba.
2)
Oi, eu sou a vitamina: esse
episódio foi eleito recentemente o mais engraçado da série pelos americanos.
Lucy decide fazer a propaganda de um xarope estilo Biotônico Fontoura, mas
acaba engolindo tantas colheradas que se
embebeda com o remédio.
3)
A cena dos bombons: Lucy e
Ethel decidem trabalhar, mas não sabem fazer absolutamente nada. Acabam
conseguindo emprego como embaladoras em uma fábrica de bombons. No entanto, não
conseguem pegar vários bombons ao mesmo tempo e embalá-los. E aí é que elas
começam a apelar para os métodos
mais loucos para poder conseguir embalar os bombons.
5)
Mme. Lemond: Lucille Ball nos
mostrando suas habilidades no ballet. Ainda há o personagem de Mme. Lemond que
fica repetindo (até grudar na cabeça): one, two, three and four, one, two,
three...
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